quarta-feira, 18 de março de 2009

Quarta Futebol! Sobre a Privatização do Futebol!


Caros e Caras,

Aos poucos vou vendo e pesquisando que não sou o único que escreve e questiona o neoliberalismo no futebol. Tema que abordei desde o primeiro posto sobre futebol. É tão visível e tão pouco falado essa metamorfose do futebol. Muitos falam das transformações em outros níveis da sociedade, mas esquecem esse patrimônio do povo brasileiro.

Impressinante a passividade em que vemos tudo isso. Fiquei feliz quando vi o Emir Sader escrevendo sobre isso. E recentemente consegui pela net outro artigo bem interessante que trata sobre duas coisas que já tinha abordado: a venda de imagem e o lucro que isso gera, sendo que hoje isso dá mais lucro que jogar bem, e sobre a influência das televisões e tb sobre o dinheiro que isso dá.

Enfim, como caminhamos cada vez mais para a verdadeira ditadura do mercado no futebol. A privatização do futebol caminha a passos largos! Pior que vejo muito gente de esquerda elogiando as vezes essa racionalidade. Como no caso do São Paulo... A estrutura... O clube empresa... e as outras catilengas neoliberais, sem que eles percebam que estão legitimando a lógica do mercado. E mal sabem eles, como já escrevi aqui, que mesmo com essa catilenga o que dá título e lucro mesmo é futebol! Sem um bom time, vendendo caro seus principais jogadores e não fazendo uma base time nenhum no mundo é campeão!

Mas vamos ao texto de hoje sobre a Seleção Brasileira.


Osvaldo Bertolino: Seleção Brasileira que não é brasileira

É triste ver que a Seleção Brasileira de futebol que acaba de ser convocada praticamente nada tem a ver com o Brasil, além do nome. Há muito a seleção perdeu o vínculo com o país.


O prestígio esportivo da Seleção Brasileira passou a ser usado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) como máquina de fazer dinheiro.

Entre contratos de patrocínio, cotas de amistosos e vendas de direitos de transmissão, a Seleção Brasileira rende uma fortuna.

Os direitos de transmissão de cada uma das partidas disputadas são vendidos pela CBF à Rede Globo, que tem contrato de exclusividade para os canais abertos. A emissora paga 600 mil dólares por evento à entidade.

Até mesmo os períodos de treinos e concentrações são usados para aumentar os lucros da CBF — hotéis pagam para a Seleção Brasileira se hospedar e faturam com o marketing.

A transformação do mundo da bola num negócio milionário, ocorrida no início da década de 90, ajudou a seleção a atingir o atual faturamento.

Como administradora da seleção, a CBF tem aproveitado esse cenário favorável para fechar bons acordos comerciais.

“Até a década de 80, o time era sustentado por verbas do governo”, afirma Ricardo Teixeira, presidente da CBF. Aos poucos, as estatais foram sendo substituídas por empresas privadas.

Os valores dos contratos de patrocínio alcançaram novo patamar quando a Nike se tornou parceira da seleção, em 1996.

Até hoje a multinacional norte-americana contribui com parte substancial do faturamento da equipe: são 12 milhões de dólares por ano.

O contrato vai até 2018. Uma cláusula prevê bônus de 6 milhões de dólares em caso de vitória nos mundiais de 2010, 2014 e 2018.

Além do direito de ser a fornecedora de material esportivo do time, a Nike pode explorar a imagem da seleção em uma série de produtos.

Os prejuízos desse modelo para o futebol são evidentes. Uma semana antes da Copa de 1998, por exemplo, a Nike, tentando capitalizar ao máximo o momento, convocou os jogadores para participar de uma festa de inauguração.

O então capitão Dunga (patrocinado pela Reebok) chegou a dizer que os jogadores deviam treinar, e não participar de eventos sociais.

Depois da derrota para a França na final (por 3 a 0), foi levantada a possibilidade de que a Nike teria sido a responsável pela escalação de Ronaldo. Naquele evento ficou patente a influência dos patrocinadores nos destinos da seleção.

A confusão começou nos amistosos que antecederam a Copa de 1994. Como não havia comprado cotas de patrocínio nas emissoras de TV, a Brahma invadiu os estádios com placas e torcidas uniformizadas.

O jogador Bebeto, patrocinado pela cervejaria, chegou a comemorar um gol fazendo o número 1 (exatamente como fazia nos comerciais da Brahma).

Em represália, as câmeras da Globo enquadravam o campo apenas parcialmente, para impedir que a sinalização da Brahma entrasse em cena. O telespectador chiou com os cortes nas transmissões dos jogos.

O Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) intercedeu. No final, a Brahma diminuiu a presença nos campos e as emissoras voltaram a transmitir os jogos normalmente.

A Fédération Internationale de Football Association (Fifa) também está toda contaminada por esta lógica.

Num artigo publicado na revista científica Lancet, alguns médicos questionaram a inclusão de companhias como a cervejaria Budweiser, a indústria de refrigerantes Coca-Cola e a cadeia de fast-food McDonald’s como parceiros oficiais da Fifa.

Segundo os autores do artigo, a entidade tem a obrigação de evitar relacionamentos com patrocinadores que não sejam adequados.

“A presença de parceiros da Fifa como a Budweiser, a Coca-Cola e o McDonald’s ilustra bem o conflito existente entre o esporte internacional e a promoção de um modo de vida saudável”, diz o artigo.

“Esta tensão reforça a necessidade de se reavaliar as relações entre organizadores e seus patrocinadores, assim como dos governos assegurarem a eficiência das suas legislações e do investimento público no esporte de elite”, afirmam os autores.

Outro efeito nefasto da privatização do futebol é o mandonismo das TVs.

O renascimento do futebol no Reino Unido, por exemplo, aconteceu a partir de 1992 quando Murdoch e a British Sky Broadcasting investiram milhões de libras esterlinas, pagando pelos direitos de transmissão ao vivo das partidas (até aquele momento, não havia cobertura ao vivo dos jogos das equipes inglesas) — um modelo copiado em vários lugares, inclusive no Brasil.

Um dos principais problemas é a publicidade na TV. Os clubes não podem fazer planejamento porque datas e horários são determinados pelos interesses comerciais de quem detém os direitos de transmissão.

Mesmo jornalistas de outros veículos de comunicação são proibidos de fazer determinadas coberturas por conta do controle autoritário do monopólio televisivo. Até a essência do futebol está ameaçada.

A maioria dos canais não coloca anúncios no ar durante as partidas, pelo simples motivo de que o futebol é um esporte com pouco tempo de interrupção.

Por isso, os nomes dos patrocinadores são expostos em placas em volta do campo. Já se fala em mudanças nas regras do futebol para facilitar a veiculação de comerciais na TV.

Isso seria o fim do futebol tal como o conhecemos hoje. O problema é que o futebol está ganhando dinheiro grande. E o dinheiro grande muitas vezes acaba conseguindo o que quer.

Blog O Outro Lado da Notícia

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