terça-feira, 4 de agosto de 2009

Nós merecemos um Título Nacional!


Faz muito tempo que não escrevo nada aqui no blog... Mas hoje é impossível diante de tanta euforia. Não contive a alegria ao saber que o Goiás tinha contratado Fernandão. Estava saindo da aula de samba quando vi a msg no meu celular...

Esmeraldino de muitos anos tive picos de acompanhar mais ou menos meu clube. Normal... Um dos períodos que mais acompanhei foi o período em que o Fernandão era o artilheiro dos Goiás e Vila, sempre marcou gol, que fez o gol de bicicleta no Bahia, histórico jogo que terminou 4 a 4, e o Cara do penta campeonato goiano.

Depois disso tornou-se mais conhecido no Inter, onde teve o privilégio de levantar a taça de campeão mundial de clubes.

Faz muito tempo que penso e falo nas rodas de amigos que faltava um camisa 10 no Goiás, em algumas poucas citava o Fernandão no período em que jogou no meio do Goiás. Neste momento nossa carência era justamente de um cara como ele. Líder, Raçudo, experiente e que ainda por cima foi formado nas categorias de base do Goiás! Golaço da diretoria e que teve grande ajuda de Iarley, que foi campeão do mundo junto com Fernandão no Inter.

Verdade que ainda tem muito campeonato Brasileiro pela frente... Mas o Goiás não estava indo mal! Tava em 3o, ganhando do então líder Palmeiras de virada, ganhando do então líder Atlético-MG no Mineirão com 50 mil pessoas. Um time ainda com limites, mas co muita garra. Somado o elemento Fernandão é motivo pra empolgar muito...

Se pegarmos os histórico do Brasileiro de pontos corridos veremos que o Goiás é o quinto maior pontuador, à frente de Palmeiras, Flamengo, Corinthians, Grêmio etc e atrás apenas de times que já foram campeões nesta era.

O Goiás é lider do ranking Chance de Gol -

É um Ranking de Clubes Brasileiros que funciona assim:

O Ranking CHANCE DE GOL de Clubes Brasileiros segue rigorosamente os mesmos métodos e critérios empregados na confecção do Ranking CHANCE DE GOL de Seleções. As únicas diferenças são as seguintes:

a) O Ranking CHANCE DE GOL de Clubes Brasileiros leva em consideração os resultados (placares) dos clubes apenas nos últimos 12 meses (em vez dos 48 meses utilizados no ranking de seleções).

b) São considerados os jogos válidos pelas seguintes competições:

- Campeonato Brasileiro (Série A)
- Campeonato Brasileiro (Série B)
- Campeonato Brasileiro (Série C)
- Campeonato Brasileiro (Série D)
- Copa do Brasil
- principais Campeonatos Estaduais



Além disso o Goiás tem uma estrutura de dar invenja em qualquer clube carioca e na grande maioria dos paulistas. Posso dizer que está passando de hora de merecermos o título de campeão nacional.

O Sport ganhou a Copa do Brasil ano passado, o Atlético Paranaense já foi campeão Brasileiro, assim como o Coritiba e o Guarani... Não é sonho e muito menos impossível.

Já tivemos essa chance em 1995, em que perdemos a fase de grupos para Botafogo de Túlio em um jogo eletrizante no Serra Dourada.

Chegamos mais perto ainda em 1996 em que tombamos na semi-finais contra o Grêmio, campeonato que fosse de pontos corridos tínhamos ganho com larga vantagem.

Depois em 2005 ficamos em 3o, perdemos o 1o turno do Brasileirão, já com pontos corridos, pro Corinthians no Pacaembu. Sem contar que nas últimas 3 rodadas perdemos 2 dos 3 jogos, se tivessemo vencidos iríamos decidir o título no Serra contra o Corinthians, campeão roubado daquele ano.

Já chegamos perto várias vezes. Estamos numa situação muito boa agora... Talvez seja a última chance da minha geração de juventude em comemorar um título nacional. Temos méritos passados e presentes pra isso... Queremos garrar e muita disposição para superar esse trauma histórico do Centro-Oeste, região que ainda não tem um título nacional.

Caso isso venha acontecer, 2009 seria o ano dos meus sonhos, pois das grandes frustações que tenho na vida somente o título nacional não depende de mim, as demais todas estão sendo superadas por mim em 2009.

Sendo assim, ao contrário de 2008 que chorava querendo que o ano ruim acabasse, irei chorar no final de 2009 pedindo pra ele nunca mais acabar...

Agora só me resta torcer e muito... A meta de ir 50% dos jogos do Goiás em Goiânia será mantida e dependendo do ritmo ampliada e muito!!!

Força Verdão!!!!

sábado, 1 de agosto de 2009

Perda de comanda na balada: consumidor só deve pagar pelo que consumiu

Perda de comanda na balada: consumidor só deve pagar pelo que consumiu
Seg, 27 Jul, 17h04

SÃO PAULO - Quem costuma frequentar casas noturnas já deve ter recebido uma comanda prevendo multa para o caso de perda ou extravio. Entretanto, segundo o diretor-presidente do Ibedec (Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo), Geraldo Tardin, a prática é ilegal e o consumidor só deve pagar pelo que de fato consumiu.

"Essa prática é adotada por muitos estabelecimentos. É comum o consumidor pagar pela prática abusiva da empresa sem ter a informação de que está sendo lesado!", diz Tardin.

Lei

De acordo com o presidente do Instituto, não há nenhuma lei que legitime o estabelecimento a cobrar multa. Além disso, acrescenta, a responsabilidade de manter o controle do que foi consumido é do fornecedor e não do cliente.

"O fornecedor não pode repassar ao consumidor o controle. Essa atitude caracteriza prática abusiva. O fornecedor deve ter o controle do consumo por cartão magnético ou venda de fichas", alerta.

No caso da perda da comanda, o consumidor que for impedido de deixar o estabelecimento, caso não pague a multa, poderá ligar para a polícia e pedir seu comparecimento ao local. Além disso, ele deve registrar um boletim de ocorrência na delegacia.

Na hipótese de o cliente pagar a conta estipulada pela casa noturna, este poderá ingressar com uma ação pedindo em dobro o valor pago e mais indenização por danos morais.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Futebol e Religião! Bom texto!

JUCA KFOURI
Deixem Jesus em paz

Está ficando a cada dia mais insuportável o proselitismo religioso que invadiu o futebol brasileiro

MEU PAI , na primeira vez em que me ouviu dizer que eu era ateu, me disse para mudar o discurso e dizer que eu era agnóstico: "Você não tem cultura para se dizer ateu", sentenciou.
Confesso que fiquei meio sem entender.
Até que, nem faz muito tempo, pude ler "Em que Creem os que Não Creem", uma troca de cartas entre Umberto Eco e o cardeal Martini, de Milão, livro editado no Brasil pela editora Record.
De fato, o velho tinha razão, motivo pelo qual, ele mesmo, incomparavelmente mais culto, se dissesse agnóstico, embora fosse ateu.
Pois o embate entre Eco e Martini, principalmente pelos argumentos do brilhante cardeal milanês, não é coisa para qualquer um, tamanha a profundidade filosófica e teológica do religioso.
Dele entendi, se tanto, uns 10%. E olhe lá.
Eco, não menos brilhante, é mais fácil de entender em seu ateísmo.
Até então, me bastava com o pensador marxista, também italiano, Antonio Gramsci, que evoluiu da clássica visão que tratava a religião como ópio do povo para vê-la inclusive com características revolucionárias, razão pela qual pregava a tolerância, a compreensão, principalmente com o catolicismo.
E negar o papel de resistência e de vanguarda de setores religiosos durante a ditadura brasileira equivaleria a um crime de falso testemunho, o que me levou, à época, a andar próximo da Igreja, sem deixar de fazer pequenas provocações, com todo respeito.
Respeito que preservo, apesar de, e com o perdão por tamanha digressão, me pareça pecado usar o nome em vão de quem nada tem a ver com futebol, coisa que, se bem me lembro de minhas aulas de catecismo, está no segundo mandamento das leis de Deus.
E como o santo nome anda sendo usado em vão por jogadores da seleção brasileira, de Kaká ao capitão Lúcio, passando por pretendentes a ela, como o goleiro Fábio, do Cruzeiro, e chegando aos apenas chatos, como Roberto Brum.
Ninguém, rigorosamente ninguém, mesmo que seja evangélico, protestante, católico, muçulmano, judeu, budista ou o que for, deveria fazer merchan religioso em jogos de futebol nem usar camisetas de propaganda demagógicas e até em inglês, além de repetir ameaças sobre o fogo eterno e baboseiras semelhantes.
Como as da enlouquecida pastora casada com Kaká, uma mocinha fanática, fundamentalista ou esperta demais para tentar nos convencer que foi Deus quem pôs dinheiro no Real Madrid para contratar seu jovem marido em plena crise mundial.
Ora, há limites para tudo.
É um tal de jogador comemorar gol olhando e apontando para o céu como se tivesse alguém lá em cima responsável pela façanha, um despropósito, por exemplo, com os goleiros evangélicos, que deveriam olhar também para o alto e fazer um gesto obsceno a cada gol que levassem de seus irmãos...
Ora bolas!
Que cada um faça o que bem entender de suas crenças nos locais apropriados para tal, mas não queiram impingi-las nossas goelas abaixo, porque fazê-lo é uma invasão inadmissível e irritante.
Não é mesmo à toa que Deus prefere os ateus...

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terça-feira, 7 de julho de 2009

Cerveja e Esporte, essa combinação pode ser benéfica?



Cerveja ajuda recuperação de atletas, diz pesquisa

07 de Julho de 2009 19:18

Além de matar a sede e relaxar, a cerveja ajuda na recuperação após a prática esportiva. A afirmação é do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) da Espanha, que apresentou estudo defendendo o consumo moderado da cerveja para os atletas como fonte de hidratação diária.

O estudo "Idoneidade da cerveja na recuperação do metabolismo dos desportistas", divulgado nesta terça-feira, foi baseado em relatórios e pesquisas de especialistas em medicina, fisiologia e nutrição da Universidade de Granada, com o aval do CSIC. Segundo o documento, os componentes da cerveja ajudam na recuperação do metabolismo hormonal e imunológico depois da prática desportiva de alto rendimento, e também favorece a prevenção de dores musculares.

A tese é defendida pelo cardiologista e ex-jogador de basquete da seleção espanhola Juan Antonio Corbalán, medalha de prata na Olimpíada de Los Angeles/1984. O estudo foi realizado em dois anos e recomenda o consumo de três tulipas de 200 ml de cerveja (ou de 20g a 24g de álcool) para homens e duas para mulheres (10g a 12g) por dia - volume que os autores do relatório definem como moderado. De acordo com os pesquisadores, a cerveja contém 95% de água e é a bebida alcoólica com menor gradação (5% em média). Uma tulipa de 200 ml possui 90 calorias, o mesmo que um copo de suco de laranja.

Para chegar a essa conclusão de consumo na dieta de esportistas, os cientistas fizeram pesquisa com 16 atletas universitários com idades entre 20 e 30 anos, em boa forma física e que alcançavam uma velocidade aeróbica máxima (VAM) de 14 km/h. Além disso, todos deveriam ser consumidores habituais e moderados de cerveja, manter uma dieta mediterrânea, não ter hábitos tóxicos nem antecedentes familiares de alcoolismo.

Os testes foram feitos durante três semanas em baterias diárias de uma hora de corrida, sob calor de 35º, 60% de umidade relativa e duas horas de pausa para hidratação. Nesse intervalo os atletas bebiam água ou cerveja (máximo de 660 ml), alternando as bebidas em cada pausa de hidratação para comparar resultados.

A conclusão foi de que a cerveja permitia recuperar as perdas hídricas e as alterações do metabolismo tão bem quanto a água. Os cientistas usaram parâmetros indicativos como: composição corporal, inflamatórios, imunológicos, endócrino-metabólicos e psico-cognitivos (coordenação, atenção, campo visual, tempos de percepção-reação, entre outros) para comprovar que o álcool não afetava a atividade de hidratação.

O estudo destaca ainda que a cerveja contém substratos metabólicos que substituem algumas substâncias perdidas durante o exercício físico como aminoácidos, minerais, vitaminas e antioxidantes.

Agência Estado

Maioria dos alemães orientais sente que a vida era melhor no Comunismo!

Maioria dos alemães orientais sente que a vida era melhor no comunismo
Der Spiegel
Por Julia Bonstein

A apologia da República Democrática Alemã está em alta, duas décadas
depois da queda do muro de Berlim. Os jovens e os mais ricos estão
entre os que desaprovam as críticas segundo as quais a Alemanha Oriental
era um "Estado ilegítimo". Numa nova pesquisa, mais da metade dos
antigos alemães orientais defende a RDA.

A vida de Birger, nascido do Estado de Mecklenburg-Pomerânia Ocidental
no nordeste da Alemanha, poderia ser vista como uma história do
sucesso alemão. O muro de Berlim caiu quando ele tinha dez anos.
Depois de se formar no colegial, ele estudou economia e administração
em Hamburgo, morou na Índia e na África do Sul, e depois conseguiu um
emprego numa companhia na cidade ocidental de Duisburg. Hoje, Birger,
30, planeja velejar no Mediterrâneo. Ele não quis usar seu
nome verdadeiro nesta reportagem, porque não quer ser associado à
antiga Alemanha Oriental, que ele vê como "um rótulo com conotações
negativas."

Mesmo assim, sentado num café em Hamburgo, Birger defende o antigo
país comunista. "A maioria dos cidadãos alemães orientais tinha uma
vida boa", diz ele. "Com certeza, não acho que aqui é melhor." Por
"aqui", ele quer dizer a Alemanha reunificada, que ele submete a
comparações questionáveis.

"No passado havia a Stasi [polícia secreta da Alemanha Oriental], e hoje existe (o ministro de interior da Alemanha Wolfgang) Schäuble - ou o GEZ (o centro de arrecadação de impostos das instituições de rádio e televisão públicas da Alemanha) - que coleta informações sobre nós." Na opinião de Birger, não há diferenças fundamentais entre a ditadura e o momento atual. "As pessoas que vivem na linha de pobreza hoje não têm liberdade para viajar."

Birger não é de forma alguma um jovem sem instrução. Ele está
consciente da espionagem e da repressão que aconteceram na antiga
Alemanha Oriental, e, segundo ele, "não era uma coisa boa que as
pessoas não pudessem sair do país, e muitos foram oprimidos". Ele não é
fã do que acredita ser uma nostalgia desprezível pela antiga Alemanha
Oriental. "Eu não construí um templo para adoração dos pickles
Spreewald na minha casa", disse ele, referindo-se à conserva que fazia
parte da identidade da Alemanha Oriental. De qualquer forma, ele não
perde tempo em argumentar contra os que criticam o lugar que seus pais
chamavam de lar: "Não dá para dizer que a RDA era um estado ilegítimo,
e que tudo está bem hoje".

Como um defensor da ditadura da antiga Alemanha Oriental, o jovem compartilha da visão da maioria das pessoas da parte oriental da Alemanha. Hoje, vinte anos depois da queda do muro de Berlim, 57%, ou a maioria absoluta, de alemães orientais defendem a antiga Alemanha Oriental. "A RDA tinha mais pontos positivos do que negativos. Havia alguns problemas, mas a vida era boa lá", dizem 49% dos entrevistados. Oito por cento dos alemães orientais se opõem veementemente a todas as críticas à sua antiga terra natal e concordam com a declaração: "a RDA tinha, na maior parte, pontos positivos. A vida lá era mais feliz e melhor do que na Alemanha reunificada de hoje".

O resultado dessas pesquisas, divulgado na sexta-feira em Berlim,
revela que a glorificação da antiga Alemanha Oriental atingiu o cerne
da sociedade. Hoje, não é mais uma mera nostalgia eterna que chora a
perda da RDA. "Uma nova forma de Ostalgia (nostalgia pela antiga RDA)
se constituiu", diz o historiador Stefan Wolle. "A ânsia pelo mundo
ideal da ditadura vai muito além das antigas autoridades
governamentais." Até os jovens que quase não tiveram experiência com a
RDA a estão idealizando hoje. "O valor de sua própria história está em
jogo", diz Wolle.

As pessoas estão ignorando os defeitos da ditadura, como se as
críticas ao Estado fossem um questionamento de seu próprio passado.
"Muitos alemães orientais percebem as críticas ao sistema como um
ataque pessoal", diz o cientista político Klaus Schroeder, 59, diretor
de um instituto na Universidade Livre de Berlim que estuda o antigo
Estado comunista.

Ele alerta a respeito dos esforços para subestimar a ditadora SED por parte dos jovens cujo conhecimento sobre a RDA é derivado principalmente de conversas familiares, e não tanto daquilo que aprenderam na escola. "Nem mesmo metade desses jovens na parte oriental da Alemanha descrevem a RDA como uma ditadura, e a maioria acredita que a Stasi era um serviço de inteligência normal", concluiu Schroeder num estudo de 2008 feito com estudantes. "Esses jovens não podem, e na verdade não querem, reconhecer o lado sombrio da RDA."

"Retirados do paraíso"

Schroeder fez inimigos com declarações como essa. Ele recebeu mais de
quatro mil cartas, algumas delas furiosas, em resposta a reportagens
sobre seu estudo. Birger, de 30 anos, também enviou um e-mail para
Schroeder. O cientista político agora compilou uma seleção de cartas
típicas para documentar o clima opinativo no qual a RDA e a Alemanha
unificada são discutidas na parte oriental da Alemanha. Parte do
material proporciona um insight chocante sobre os pensamentos dos
cidadãos decepcionados e irritados. "Sob a perspectiva atual, acredito
que fomos retirados do paraíso quando o muro caiu", escreveu uma
pessoa, e um homem de 38 anos "agradece a Deus" por ter tido a chance
de viver na RDA, acrescentando que só depois da reunificação da
Alemanha ele observou a existência pessoas que temiam por sua
existência, pedintes e pessoas sem-teto.

A Alemanha de hoje é descrita como um "Estado de escravos" e uma
"ditadura do capital", e alguns autores das cartas rejeitam a Alemanha
por ser, em sua opinião, muito capitalista ou ditatorial, e certamente
não democrática. Schroeder acha essas declarações alarmantes. "Temo
que a maioria dos alemães orientais não se identifiquem com o atual
sistema sociopolítico."

Muitos dos autores das cartas são pessoas que não se beneficiaram da
reunificação da Alemanha ou que preferem viver no passado. Mas também
incluem pessoas como Thorsten Schön.

Depois de 1989, Shön, um artesão de Stralsund, cidade do mar Báltico,
a princípio atingiu um sucesso depois do outro. Apesar de não ser mais
dono do Porsche que comprou depois da reunificação, o tapete de pele
de leão que ele comprou numa viagem à África do Sul - uma das muitas
que fez ao exterior nos últimos 20 anos - ainda está estendido
no chão de sua sala de estar. "Não há dúvida: eu tive sorte", disse o
homem de 51 anos. O grande contrato que ele conseguiu durante o
período após a unificação tornou as coisas mais fáceis para Schön
abrir seu próprio negócio. Hoje ele tem uma visão clara de Strelasund
direto da janela de sua casa avarandada.

"As pessoas mentem e trapaceiam em todo lugar hoje"

Objetos de Bali decoram sua sala de estar, e uma versão em miniatura
da Estátua da Liberdade fica ao lado do seu DVD player. Apesar de
tudo, Schön senta-se no sofá e conta com entusiasmo sobre os bons e
velhos tempos na Alemanha Oriental. "Antigamente, as áreas de camping
eram lugares onde as pessoas desfrutavam da liberdade juntas", diz
ele. O que ele mais sente falta hoje é "daquele sentimento de
companheirismo e solidariedade". A economia da escassez, completada
pelas trocas, era "mais como um hobby". Se ele tem uma ficha na Stasi?
"Não estou interessado nisso", diz Schön. "Além do mais, seria muito
desapontador."

Sua avaliação sobre a RDA é clara: "No que me diz respeito, o que
tivemos naquela época foi menos ditatorial do que temos hoje". Ele
quer ver salários iguais e pensões iguais para os moradores da antiga
Alemanha Oriental. E quando Schön começa a reclamar da Alemanha
unificada, sua voz contêm um elemento de satisfação consigo mesmo. As
pessoas mentem e trapaceiam em todo lugar hoje, diz ele, e as
injustiças de hoje são simplesmente perpetradas de uma forma mais
astuta do que na RDA, onde não se ouvia falar de salários de fome e
pneus de carro cortados. Schön não tem nada a dizer sobre suas
próprias experiências ruins na Alemanha atual. "Estou melhor hoje do
que antes", diz ele, "mas não estou mais satisfeito."

O pensamento de Schön envolve menos a lógica fria do que a necessidade
de defender seu ponto. O que o torna particularmente insatisfeito é "o
modo falso como o Oeste pinta o Leste hoje". A RDA, diz ele, "não era
um Estado injusto", mas "meu lar, onde minhas conquistas eram
reconhecidas". Schön repete obstinadamente a história de como levou
anos de trabalho duro para ele começar seu próprio negócio em 1989 -
antes da reunificação, ele acrescenta. "Aqueles que trabalharam duro
também foram capazes de se dar bem na RDA". Isso, diz ele, é uma das
verdades que são persistentemente negadas nos programas de debate,
quando os alemães ocidentais "agem como se os alemães orientais fossem
todos um pouco tolos e ainda deveriam estar de joelhos em gratidão
pela reunificação". O que exatamente há para ser celebrado, Schön se
pergunta?

"Memórias tingidas de cor-de-rosa são mais fortes do que as
estatísticas de pessoas tentando escapar e os pedidos de vistos de
saída, e ainda mais fortes do que os arquivos sobre assassinatos no
muro de Berlim e sentenças políticas injustas", diz o historiador
Wolle.

São as memórias de pessoas cujas famílias não foram perseguidas e
vitimizadas na Alemanha Oriental, de pessoas como Birger, de 30 anos,
que diz hoje: "Se a reunificação não tivesse acontecido, eu também
teria tido uma vida boa".

A vida como um cidadão da RDA

Depois de se formar na universidade, diz, ele teria sem dúvida
aceitado uma "posição de gerência em alguma empresa", talvez da mesma
forma que seu pai, que era o presidente de uma cooperativa de
fazendeiros. "A RDA não tinha nenhuma influência na vida de um cidadão
da RDA", conclui Birger. Essa visão é compartilhada por seus amigos,
todos eles com estudo superior e filhos de ex-alemães orientais,
nascidos em 1978. "Reunificação ou não", concluiu o grupo de amigos
recentemente, de fato não faz diferença para eles. Sem a reunificação,
suas opções de viagem seriam Moscou ou Praga, em vez de Londres e
Bruxelas. E o amigo que trabalha no governo em Mecklenburg hoje
provavelmente teria sido um oficial leal ao partido na RDA.

O jovem expressa suas visões de forma equilibrada e com poucas
palavras, apesar de parecer um pouco desafiador em alguns momentos,
como quando diz: "Eu sei, o que estou dizendo não é tão interessante.
A história das vítimas é mais fácil de contar."

Birger não costuma mencionar sua origem. Em Duisburg, onde ele
trabalha, quase ninguém sabe que ele é da Alemanha Oriental. Mas nessa tarde, Birger está disposto a contradizer "a história escrita pelos vitoriosos". "Na percepção do público, há apenas vítimas e carrascos. Mas as massas ficam à margem."

Eis alguém que se sente pessoalmente afetado quando o terror e a
repressão da Stasi são mencionados. Ele é um acadêmico que sabe "que
ninguém pode consentir com os assassinatos no muro de Berlim".
Entretanto, no que diz respeito às ordens dos guardas no muro de matar
os que tentassem fugir, ele diz: "Se há um grande sinal ali, você não
deveria ir lá. Foi totalmente negligente".

Isso levanta uma antiga questão mais uma vez: existia uma vida real em
meio à fraude? Subestimar a ditadura é visto como o preço que as
pessoas pagam para preservar seu autorrespeito. "As pessoas estão
defendendo suas próprias vidas", escreve o cientista político
Schroeder, descrevendo a tragédia de um país dividido.

(Tradução: Eloise De Vylder)

quarta-feira, 24 de junho de 2009

'Senado é a câmara de vetos das elites',entrevista com Dalmo Dalari



Entrevista no Estdão Online!

São mais de 650 atos secretos apurados e a contagem continua. Conforme avança a investigação das ordens administrativas que beneficiaram sigilosamente parentes e amigos de senadores, descobre-se que agir em segredo já não era o bastante: até atos "ultrassecretos" foram assinados pela mesa-diretora do Senado. Acuado, o presidente da Casa, José Sarney, cujos parentes se espalham por gabinetes de colegas, anunciou a instalação de uma comissão de sindicância para apurar as denúncias, a criação de um portal de transparência para que se publique tudo o que acontece ali e uma auditoria externa na folha de pagamento. Mas não sem antes dividir a responsabilidade com os outros senadores e com a instituição: "A crise do Senado não é minha, é do Senado", disse Sarney em discurso aos pares, que aceitaram calados sua parte de culpa.

"O modelo bicameral brasileiro não se justifica", provoca o jurista Dalmo Dallari, que trabalha em um livro sobre o constitucionalismo em que analisa a necessidade de duas casas legislativas. "Para que, além dos representantes do povo, que são os deputados, precisamos de representantes dos Estados, se eles são tão dependentes do governo federal?", questiona o professor da Faculdade de Direito da USP, colocando em xeque uma casa parlamentar que controla um orçamento de R$ 3 bilhões. Em Fundamentos do Constitucionalismo - História, Política e Direito, a ser publicado ainda este ano, Dallari busca paralelos com os modelos americano, francês e inglês para sustentar que um Legislativo forte não é necessariamente dividido em dois. Mas admite que, isolada, a extinção do Senado não é viável. "É aí que uma reforma política que adote o sistema distrital se faz fundamental", diz. "Esse é o início de uma discussão. É preciso entender que, com um Legislativo melhor, a democracia se fortalece."

Em seu novo livro, o senhor critica o modelo bicameral do Legislativo brasileiro. Por quê?

É fundamental recuperar a história para entender como nasceu o sistema bicameral. No mundo moderno, há três modelos básicos de Constituição. Um é o inglês, que tem uma peculiaridade: a Constituição é parcialmente escrita e se baseia em grande parte em decisões judiciais, que criam parâmetros para temas importantes. Por esse motivo não é tão imitada. O segundo modelo é o americano, a primeira Constituição escrita da história. E o terceiro é o francês, que se baseou em teorias filosóficas e políticas de pensadores como Rousseau e Montesquieu e foi influenciado pelos EUA, pois também é escrito.

Como surge o bicameralismo em cada um dos casos?

Na Inglaterra, que firmou sua Constituição no final do século 17, o grande desafio da nobreza decadente era conter a burguesia ascendente. Por isso, o parlamento britânico é, ainda hoje, dividido em duas casas: uma é a Câmara dos Lordes, que é a dos nobres. A outra é a Câmara dos Comuns, dos burgueses. Nos EUA, em 1787, nasceu a ideia de uma Constituição para as antigas colônias que, a partir dali, foram chamadas de Estados, mas com o pressuposto de que não perderiam a independência. Os americanos, também influenciados por Montesquieu, defendiam a separação dos poderes. Decidiram num primeiro momento que se criaria um Legislativo em que os membros seriam eleitos pelo povo e que o número de representantes de cada Estado seria proporcional ao número de eleitores.

Por que criaram o Senado então?


Porque surgiu um grave problema: os Estados do norte não tinham escravos. Seu número de eleitores era maior e, portanto, maior seria o número de representantes. Já o Sul, escravista, ficaria com menor representação. Para conter os abolicionistas, criou-se o Senado, com número igual de representantes dos Estados, que deveria confirmar tudo o que fosse aprovado na primeira Casa. Assim, a escravatura durou mais 80 anos nos EUA. A partir daí, houve uma busca de justificativa mais nobre para a existência do Senado: os senadores seriam embaixadores dos Estados junto ao governo central.

Como é o modelo francês?

Ele guarda semelhança com o inglês na inspiração. A primeira Constituição francesa é de 1791, num segundo momento da Revolução, em que as forças populares já não eram tão ativas e a burguesia, que buscava conciliação com o setor progressista da nobreza, tinha assumido o poder. Mas havia uma corrente da burguesia radical com grande poder no Legislativo. Para deter os excessos democratizantes dessa corrente foi que se pensou no Senado, instituído oficialmente na Constituição de 1799 e chamado de poder conservador, porque se queria afirmar que a fase revolucionária havia terminado.

Por que o bicameralismo foi adotado no Brasil?


Na sua primeira fase de país independente, na primeira Constituição, de 1824, o Brasil tomou por base o modelo francês. Foi prevista a existência da Câmara dos Deputados e do Senado, mas com diferenças. Uma delas era a maneira de escolha dos parlamentares. Os eleitores escolhiam os deputados e uma lista tríplice de senadores. O imperador escolhia então o senador a partir dessa lista. O segundo dado é que os senadores eram vitalícios, não tinham mandato. E o terceiro ponto, muito expressivo, é que para ser senador o cidadão precisava ter renda mínima anual de 800 mil réis, uma fortuna. Ou seja, o Senado nasceu como uma casa feita para abrigar os oligarcas, que lá se mantêm até hoje.

A estrutura mudou na República?


Em 1891, o Brasil fez uma adaptação para o modelo americano, com destaque para a figura de Rui Barbosa, que conhecia bem o sistema dos EUA. Estabeleceu-se como lá o princípio da separação de poderes. Em relação ao Legislativo, decidiu-se por um sistema bicameral, com os senadores eleitos pelo povo e dando ao Senado o poder de revisão. Por conveniência, para estabelecer um paralelismo com os EUA, as províncias viraram Estados. Mas só no nome. A figura do senador como representante dos Estados, no Brasil, não tem sentido, porque os Estados brasileiros não são soberanos. Eles podem tomar decisões sobre uns assuntos, mas não sobre outros, reservados ao poder central. Mesmo nos EUA não são tão soberanos assim. Chamar as antigas colônias de Estado foi um artifício para criar a fantasia de que elas continuariam autônomas mesmo sob um governo comum.

A Constituição define os senadores como representantes dos Estados da Federação?


Sim, mas a nossa é uma falsa federação, porque temos falsos Estados. O Artigo 46 da Constituição diz que o Senado se compõe de representantes dos Estados e do Distrito Federal. Mas, de fato, não há nenhuma justificativa para que, além dos representantes do povo, haja representantes dos Estados, tão dependentes que são do governo central. Senão, por que não criar também uma câmara federal para representar os municípios? Afinal, nosso federalismo é de três níveis.

Por que os senadores não agem para aumentar a autonomia dos Estados que eles representam?

Porque a medida que existe para que eles manipulem o poder é suficiente. Não há interesse de ampliar essa autonomia, só pensam em brigar pelo poder.

Quem está ganhando essa briga?

As oligarquias ficaram muito fortalecidas, tanto que duram até hoje. Existem esquemas políticos estaduais que dominam o sistema político. Os oligarcas mantêm o povo em situação de dependência. O Maranhão é o Estado brasileiro com maior índice de analfabetos. Isso gera uma submissão total, porque os mais pobres ficam gratos quando têm escola ou hospital e reelegem aquele senador. Como os oligarcas estaduais têm muita força eleitoral, acabam usando isso para composições políticas. Para que o governo central tenha apoio de um Estado, é preciso negociar com os parlamentares de lá e a influência do senador nisso é enorme.

Mas José Sarney teve de sair do Maranhão para se eleger no Amapá.

Porque surgiram tantas denúncias contra o grupo Sarney que a situação ficou insustentável. O Maranhão tem uma história de miséria e isso fez com que surgisse uma oposição forte, que começou a esclarecer os eleitores e fez com que a base de Sarney fosse diminuída. Estive no Amapá há algum tempo e, quando perguntei a alguns moradores se eles eram de lá, a maioria respondia ser do Maranhão. Era a população transplantada pelo Sarney para se eleger senador no Amapá. Pessoas miseráveis que continuaram miseráveis em outro lugar, mas profundamente agradecidas pelo pedacinho de terra que ganharam para sobreviver.

Sarney chegou à Presidência da República e optou por voltar ao Senado. Por que não seguir o caminho de agir nos bastidores da política?


Ele volta porque gosta de se sentir um senhor feudal. Com isso, além de conseguir benefícios pessoais, ele beneficia também seus amigos e sua família. Agora, o espaço dos senhores feudais está diminuindo gradativamente. Ainda vai levar um tempo, mas já está acontecendo.

Nos EUA, na Inglaterra e na França, discute-se o fim do bicameralismo?

Muitos teóricos ingleses admitem que a Câmara dos Lordes é uma fantasia. Ela foi perdendo poder e as decisões são tomadas na Câmara dos Comuns. Na França, o Senado ainda mantém poder político, embora mais restrito, porque desapareceu o dualismo entre o resto da nobreza e a burguesia. Somente nos EUA o Senado é realmente forte, porque expressão do poder dos Estados. No Brasil, não há justificativa teórica nem de organização democrática para a necessidade do Senado. Na prática, o Senado é e sempre foi um anteparo contra excessos democratizantes. O papel que a Constituição lhe atribui é muito mal exercido. Reservaram-lhe algumas funções para diferenciá-lo da Câmara, mas no processo legislativo ele é igual. Por exemplo, ele tem a atribuição de aprovar não só operações financeiras externas da União, dos Estados e municípios como também a escolha de um ministro do STF e do Banco Central. E todas as leis têm de passar pelas duas casas. O desaparecimento do Senado não faria diferença no processo legislativo.

Seria uma instância a menos de decisão e de discussão de leis.


Sim, mas na Câmara a representação é proporcional. Ali, aquela regra "um eleitor, um voto" realmente vale. Ao passo que no Senado, como todos os Estados têm o mesmo número de senadores, aqueles que têm um número muito menor de eleitores têm o mesmo peso que os que têm um grande eleitorado, o que é antidemocrático e quebra o princípio da igualdade. O que vai garantir a democracia é que haja a transparência no Legislativo e maior participação do povo. As instâncias de decisão não precisam ser "para cima", podem ser "para baixo", com organizações da sociedade civil, associações, universidades. Também poderia ser mais usado o instrumento do plebiscito, da consulta de prioridades.

O Brasil tem um trauma de déficit democrático que foi o período da ditadura. Eliminar uma instituição democrática não é uma medida drástica demais?


Haverá resistência, por isso essa proposta tem de ser amplamente discutida, para que as pessoas façam uma reflexão e percebam que não há ameaça na introdução de mudanças que, bem ao contrário disso, depuram a democracia. Antidemocrático seria eliminar o Legislativo. Aliás, eu como jurista não posso perder de vista o que diz a Constituição. Ela estabelece como princípio a separação dos poderes e diz que haverá um Legislativo, um Executivo e um Judiciário, mas não exige um Legislativo bicameral. O princípio democrático é um Legislativo eleito pelo povo, mas a par disso a Constituição afirma a igualdade de todos, e o Senado é a expressão da desigualdade.

O senador Cristovam Buarque sugeriu há algum tempo um plebiscito para se questionar a existência do Congresso, o que causou um estardalhaço enorme.

Ele disse que o Congresso estava de tal forma desmoralizado que, se perguntássemos ao povo, talvez eles dissessem que seria melhor fechá-lo de uma vez. Essa ideia soou de uma forma errada, mas ele é um democrata. Isso mostra que o Brasil não tem ambiente para que se proponha o fim do Senado, não neste momento. Mas é preciso iniciar essa discussão, levantar a ideia, provocar o interesse. O assunto tem que ser discutido nas universidades e nas associações de maneira geral.

Sarney disse que a crise não é dele, mas do Senado. Como o senhor analisa essa declaração?


Ele só se esqueceu de que o Senado é o conjunto de senadores. Há sem dúvida uma crise individual também. De uma geração para outra, é preciso que se adote um comportamento diferente. É o caso ACM: o neto está longe de exercer a ascendência do avô e não há nenhuma perspectiva de que ele conquiste o mesmo poder. Isso deve acontecer também nos outros Estados e daqui para frente vai ser cada vez mais difícil manter essa dominação absoluta, até mesmo porque a imprensa está fazendo denúncias e ajudando a conscientizar a população.

Houve senadores que foram fundamentais na história do País?

Sim, já tivemos grandes figuras lá. No período monárquico, posso citar Barão do Rio Branco, que trabalhou muito para definir o Brasil como um Estado soberano. Rui Barbosa contribuiu imensamente para a instalação do sistema republicano no País. E Afonso Arinos, grande personagem político desde 1946, assessorou Ulysses Guimarães quando Tancredo morreu e houve um temor de que os militares voltassem ao poder. Mas o Senado como instituição nunca foi crucial. Eu diria que o Legislativo é essencial, não o Senado. Atualmente, existem senadores absolutamente respeitáveis, mas que são figuras isoladas. Além disso, há muitas pessoas competentes e bem intencionadas que se recusam a entrar para a política, justamente para não se desmoralizar ou para não se verem obrigadas a fazer concessões.

Nesse sentido, não seria mais importante moralizar a política do que fechar uma Casa?

Unificar o Legislativo é um dos passos para a moralização da política. Não há razão política, no sentido próprio da expressão, que justifique a existência do bicameralismo. E não há um caminho imediato de moralização, é um trabalho de longo prazo.

O caminho seria a reforma política?


A extinção do Senado só tem efeito com uma reforma política. E numa verdadeira e boa reforma política deveríamos introduzir os distritos eleitorais. No sistema distrital, o candidato só pode ser votado numa circunscrição pequena e o eleitor sabe exatamente em quem está votando, conhece seus antecedentes. Sozinha, a extinção do Senado teria bem menos sentido, embora eliminasse uma despesa enorme, de R$ 3 bilhões anuais, com despesas particulares dos senadores e de seus parentes e cabos eleitorais. Mas para ter uma boa reforma política seria necessário mudar a forma de escolha dos deputados, para que o Legislativo unicameral ficasse forte o suficiente.

Sarney declarou também que a democracia representativa está em crise e que caminhamos para uma democracia direta. O senhor concorda?


O Brasil tem o privilégio de ter uma das poucas constituições do mundo que contemplam tanto a democracia representativa quanto a direta. Nesse sentido, o voto distrital não chega a ser uma forma direta, mas aproxima muito mais o representante do representado. Precisamos aperfeiçoar a representação. Vou dar um exemplo claro: a senadora Kátia Abreu, do Tocantins, fala contra o ministro Carlos Minc se autodefinindo como representante do agronegócio, não do Estado. Outro exemplo: há alguns anos, quatro senadores foram ao Pará para pedir que a fiscalização do trabalho escravo acabasse. Isso é do interesse da população ou do Estado que eles representavam? Mesmo a candidatura deles é decidida por cúpulas políticas, fora o sistema absurdo e escandaloso de suplentes de senadores. Há inúmeros casos em que o suplente é um parente do senador ou um de seus cabos eleitorais ou um financiador. Isso não é democrático nem representativo.

Os senadores também representam seus partidos.


Mas os partidos não representam uma corrente de opinião e sim alguns interesses específicos. Os eleitos, com algumas exceções, também são ligados a interesses econômicos. E o governo central negocia com esses interesses em vista.
Há denúncias de mais de 650 atos secretos no Senado e, agora, até de atos "ultrassecretos". Como fazer para abrir de vez essa caixa-preta?

Com muita publicidade e transparência. O Judiciário era muito fechado, começou a se abrir com a Constituição de 1988 e isso tem sido altamente benéfico. Por outro lado, esses atos secretos do Senado me parecem mais um fato isolado daqueles que ainda perduram. O fato de termos uma imprensa livre e um Ministério Público que pode fazer e faz investigações tornam muito difícil a manutenção de segredos. Mas isso não quer dizer que do dia para a noite vá haver plena transparência. Estamos caminhando para isso e esses atos secretos virem à tona é bom sinal. E, na parte do sistema administrativo, o Tribunal de Contas pode e deve atuar. Aquilo que configura ilegalidade é assunto para o MP.

Além da reforma política, o senhor sugere outras medidas para que o Legislativo ganhe a confiança da população?


Sim, uma alternativa seria extinguir as medidas provisórias, que temos em quantidade absurda. Elas não deveriam existir num sistema democrático em que o Legislativo é eleito, é representante do povo. Medidas provisórias só cabem quando não há funcionamento do Legislativo. Talvez ele nunca tenha funcionado em sua plenitude, mas nos últimos tempos, com o envolvimento maior do Estado na vida social, a necessidade de um bom Legislativo cresceu, para que ele não seja ditatorial ou arbitrário. Só que estamos num círculo vicioso: não melhoramos porque não melhoramos. Se tivéssemos melhores legisladores, melhoraríamos o sistema, que melhoraria a vida da população, que votaria em melhores legisladores. Em todo caso, esse trabalho não será feito rapidamente. A população não percebe que seu desencanto com a política piora a situação. Só perceberá com um trabalho de educação, e é aí que as organizações sociais e as escolas entram de forma fundamental.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Conheça o Che Esportista!


Escritor argentino traça o perfil de Che como esportista

Nos seus curtos 39 anos de vida, Che praticou 26 desportos, como decodificou o escritor argentino Walter Vodopiviz, autor do livro Che e os desportos. Para Ariel Scharer, outro escritor argentino, Che Guevara foi “o desportista asmático mais célebre da história”, ainda que a sua fama “não proviesse nem do esporte, nem da asma”.



80 anos após o seu nascimento e 40 depois da sua morte, não param de surgir histórias sobre Che Guevara. Relatos que o transportam do mito à realidade, que humanizam o ícone e o símbolo de uma geração. A relação estreita de Ernesto com o desporto (na infância, na adolescência e mesmo na fase de guerrilheiro) destapam-lhe uma face menos visível.


E foi esta ligação umbilical, esta paixão, que levou o escritor argentino Walter Vodopiviz à criação do livro 'Che e os desportos'. O site português Maisfutebol conversou com o autor, que traçou uma resenha mais ampla sobre o esportista Ernesto Guevara.


”Ele não jogou apenas futebol. Nos primeiros anos de vida nadava muito bem na piscina do Sierras Hotel, situado na província de Córdoba, para onde os pais iam com regularidade. E desde muito cedo se tornou um combatente. Não combatía inimigos nas selvas do Congo ou na Bolívia, mas sim uma asma que o acompanhou até à morte”, explica Walter Vodopiviz.


“Foi esse problema que o levou para a natação e o atirou para a baliza no futebol. Ele não podia jogar à frente pois cansava-se rapidamente.”


A obstinação de um lutador



Perante o ar subitamente irrespirável, Ernesto Guevara lutou. Tornou-se um nadador exímio, um goleiro muito razoável e descobriu um talento intrincado para o rúgbi. Nesta modalidade representou oficialmente três clubes: o San Isidro, o Yporá e o Atalaya. “Ficou conhecido como o Furibundo Serna (sobrenome da mãe), pois era duríssimo”, lembra Walter Vodopiviz.


Mais tarde meteu na cabeça a escalada ao Monte Popocatépetl (5.425 metros de altitude) e não desistiu até tocar o cume.


“A sua principal característica enquanto homem do desporto era a obstinação. Podia não ser o mais talentoso, mas compensava essa limitação com a obsessão pelo triunfo. Quando decidiu jogar rúgbi, nem o amigo Alberto Granado acreditou ser possível e desafiou-o a saltar um muro, simulando uma placagem. Pois bem, o Ernesto não só saltou o muro como repetiu o gesto várias vezes. No final, quis placar o próprio Granado”, relata-nos, bem disposto, Vodopiviz.


“Mais tarde jogou basebol em Praga, na República Checa e apaixonou-se por esse esporte. Quando chegou a Cuba, tornou-se um excelente executante da modalidade. E ainda em Córdoba, onde viveu grande parte da infância devido às recomendações médicas -- pois essa cidade tem um clima seco e é propícia aos doentes asmáticos - jogou golfe e tênis com o pai.”


Frente a frente com um mestre do xadrez


Não foi apenas nos esportes ao ar livre que Che Guevara se destacou. Segundo Walter Vodopiviz, também no xadrez mostrou “concentração e talento” assinaláveis. “Em pequeno, o mais complicado era encontrar um adversário à altura. Cresceu e disputou duas partidas (em Mar del Plata e em Havana) contra o mestre Miguel Najdorf, um dos melhores xadrezistas de todos os tempos.”


“Só não derrotou o Najdorf porque foi pouco paciente. Arriscou demasiado. No final do primeiro duelo o campeão polaco até quis oferecer-lhe a mesa do jogo. Mas o Ernesto recusou. Considerou que só os vencedores tinham direito aos prêmios.”

Ernesto adorava o xadrez. “É um passatempo mas também um educador do raciocínio. Os países que têm grandes equipes de xadrezistas marcham também à frente do mundo em outras esferas mais importantes”, defendeu um dia o Che, depois de vencer o campeoníssimo cubano, Rogelio Ortega.


Granado: companheiro de sempre



A primeira viagem de Ernesto Che Guevara pela América Latina chegou a Hollywood pela mão do brasileiro Walter Salles. Na película, o realizador acompanha a expedição de Ernesto e Alberto Granado, inseparável camarada, na moto La Poderosa desde Buenos Aires até à península de Guajira, na Venezuela. A perda da inocência em mais de dez mil quilômetros.


Numa linguagem escorreita, Salles explora a evolução da consciência social e política que desabrocha em Ernesto, colocando num plano subalterno as experiências esportivas mantidas pelos dois colegas ao longo da travessia. E foram muitas, conforme explica Alberto Granado, num emocionante testemunho desde Havana, Cuba.


“Jogamos em Iquique, no norte do Chile, e no Hospital de San Pablo, para leprosos, no Peru. O dinheiro era cada vez mais curto e tínhamos de ser muito criativos. Mas a mais marcante de todas as experiências aconteceu na Amazónia, numa pequena cidade colombiana chamada Letícia”, recorda Alberto Granado.


Voz trémula, lucidez absoluta, a imponência de uma vida riquíssima a cada palavra proferida. “Chegámos à cidade e apresentamo-nos como treinadores de futebol. As pessoas eram humildes e acreditaram nas nossas credenciais. Como a equipa era fraquinha concordamos em jogar e treinar o Independiente Sporting Club. Era assim que se chamava o clube. Creio que já não existe.”


O pênalti nas mãos de Che



Ernesto, limitado pela asma, ocupou a posição de goleiro. “Era valente, metia a cabeça e as mãos em qualquer jogada.” Alberto tornou-se o goleador da equipe. “Chamavam-me Pedernerita, pois todos conheciam o Adolfo Pedernera, que na época era o astro do River Plate.”


A experiência em Letícia durou “alguns jogos, cinco ou seis” e terminou da melhor maneira. “Na final da competição marquei um gol e o Fuser [n.d.r. como Alberto tratava Ernesto] ainda defendeu um pênalti. A vitória valeu-nos dinheiro e alimentos necessários para chegarmos a Bogotá.”


Na capital da Colômbia, conheceram Alfredo Di Stéfano, um dos maiores jogadores de todos os tempos. ''Lembro-me que tudo aconteceu num restaurante. Vimo-lo e não resistimos a meter conversa. Era uma simpatia. Deu-nos dois bilhetes para o amigável entre o Milionários e o Real Madrid.''


Ministro sim, mas nunca na baliza


Alberto Granado ficou mais de dez anos sem ver o amigo Ernesto. “Fui viver para Cuba. Reencontramo-nos em Havana e vi-o pela última vez num jogo de futebol”. Che era, na época, ministro da Economia de Cuba, num governo presidido por Fidel castro.


“Fizemos um jogo contra uns universitários. O Fuser era ministro mas na baliza comportava-se como um goleiro doido. Logo no princípio saiu-se aos pés de um espanhol chamado Arias e deixou todos espantados. Era muito competitivo.”
Ernesto Guevara era adepto do Rosario Central e do Sportivo Alta Gracia. O jogador que mais admirava, além de Di Stéfano, chamava-se Ernesto Chueco García, o “poeta da canhota”.



Madureira: time brasileiro prestigiado



O Madureira Atlético Clube, tradicional agremiação esportiva do subúrbio do Rio de Janeiro foi protagonista de um histórico episódio envolvendo “Che”. Em maio de 1963, dois anos depois de “Che” Guevara ter sido condecorado em Brasília pelo então presidente Jânio Quadros com a “Ordem do Cruzeiro do Sul”, o time carioca disputou cinco jogos em Cuba, vencendo quase todos por goleada: 5 X 2 contra o Industriales, campeão local, 6 X 1 no Municipalidad de Morrón, da Província de Camagüey, 11 X 1 num combinado universitário e 1 X 0 e 3 X 2 em duas partidas contra uma seleção de Havana.



No segundo desses últimos dois jogos, em 18 de maio de 1963, “Che” compareceu ao estádio vestindo um uniforme verde-oliva do Exército cubano. Depois da partida, entrou em campo e saudou todos os jogadores, um por um. Membros da delegação do Madureira lembram que o encontro com “Che” Guevara foi extremamente amigável. Ele foi carinhoso e até distribuiu flâmulas. Depois visitou os jogadores no hotel.



Além de Cuba, o Madureira se apresentou na Colômbia, Costa Rica, El Salvador e México. A excursão foi acertada por José da Gama Correia da Silva, o “Zé da Gama”, português que presidiu o Madureira no biênio 1959/1960 e também atuou como empresário de futebol. Antes, em 1961, o Madureira havia se tornado o primeiro clube de futebol do Brasil a dar uma volta ao mundo.



Mas “Che” não gostava só de futebol. Em seu livro "Che, Periodista-Deportista, Pasión y Aventura", o jornalista argentino Hernán Santos Nicolini afirma que Guevara chegou a praticar 26 esportes. "Foi o esportista asmático mais célebre da história, ainda que sua notoriedade não proviesse nem do esporte e nem da asma", escreveu por sua vez o colega Ariel Scher, no livro "La Pátria Desportista", no qual dedica um capítulo inteiro ao Guevara esportista.


Time argentino homenageia Guevara



Jesus Maria não passa de um humilde lugarejo, 50 quilômetros a norte da cidade de Córdoba, Argentina. O luxo e a ostentação não fazem parte do vocabulário das suas gentes, habituadas às dificuldades de uma arreliadora ruralidade ancestral. Uma ruralidade que castra um povo desconhecedor do significado da palavra "ambição".



Cansada de tantas queixas, uma mulher ergueu-se e decidiu homenagear os valores que sempre nortearam a figura que mais admira. “Ainda e sempre Ernesto Che Guevara”, confidencia Monica Nielsen, co-fundadora e presidente do Clube Social, Atlético e Desportivo Ernesto Che Guevara, fundado em 14 de Dezembro de 2006.
O nome não deixa margem para dúvidas. Este é um clube especial, sustentado no clamor imortalizado do Hasta la victoria, siempre!. “É a maior homenagem que poderia prestar ao Comandante. Fundamos um clube com o seu nome e em sua memória. Competimos na Liga Regional de Cólon e todos os nossos símbolos estão-lhe associados. Respiramos e inspiramo-nos na obra deixada pelo Che.”


40 atletas, um único espírito


Inquietudes convergentes conseguiram o que nunca outros sequer sonharam ousar. Transportar a imagem do médico, guerrilheiro, humanista de Che e passar a sua mensagem dentro dos campos de futebol. Os apoios estatais não existem e é com devoção que Monica Nielsen e restante direção mantêm de pé o Deportivo Che Guevara.


“Somos uma entidade completamente legalizada e juridicamente imaculada. Temos mais de 40 atletas a praticar futebol em dois escalões, mas ainda esperamos que nos cedam um campo. Só a boa vontade da Juventude Agrária de Colon nos permite ter algo parecido com uma sede. São muitas dificuldades”, desabafa Monica Nielsen, “emocionada” por falar pela primeira vez desta obra “a alguém do outro lado do oceano”.


“A minha vida, como a vida de todos os elementos da nossa direção, está definida pelas convicções de Ernesto Guevara. A solidariedade, os valores de partilha e de igualdade. É isso que pretendemos passar aos nossos atletas. É isso que queremos transpor para os jogos de futebol. O Che era um apaixonado por este desporto e, onde quer que esteja, deve sentir-se orgulhoso pela nossa obra.”



10 pesos mensais para homenagear o Che




No clube todos os atletas pagam 10 pesos mensalmente. Servem para liquidar o policiamento aos jogos, o arrendamento do campo e as despesas com a arbitragem. Não, não se trata de qualquer ato ilícito. Na Liga Regional de Colón cada uma das equipas é responsável pelo pagamento de uma determinada quantia à polícia e aos árbitros sempre que assume a condição de visitado.


“Tudo vale a pena quando a fé não é pequena. O Che seria a única pessoa que seguiria, se ainda estivesse vivo. Se conduzirmos a juventude, modelamos o futuro, como ele muitas vezes dizia. É isso que pretendemos fazer também com o nosso clube”, vinca Monica Nielsen.


“Todos os nossos jogadores se identificam com os ideais Guevaristas. São ideais puros, mas irreverentes. É esse também o nosso comportamento em campo. Somos de uma correção inabalável, mas adoramos vencer.”


Nas camisetas, no emblema, na alma, o mesmo símbolo: a inconfundível expressão, a barba farta, a boina negra. Ernesto Che Guevara vive em Jesus Maria e nos campinhos da Liga Regional de Cólon.


Fontes: MaisFutebol e Blog o Nilo Dias
Para ler a série Che Desportista na íntegra, acesse: http://www.maisfutebol.iol.pt

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Os ecos do massacre no Peru e o silêncio sepulcral da mídia


Foto dos Manifestantes no Ato no Peru!

Os ecos do massacre no Peru e o silêncio sepulcral da mídia

Mais de 55 indígenas e camponeses mortos à bala. Mais de 225 feridos. Mais de 105 presos. Sob a névoa da repressão, da pólvora e da mordaça, são esses os números do massacre provocado pelas tropas do governo peruano, que abriram fogo com 5 helicópteros contra 5 mil manifestantes da região norte do país, dia 5 de junho, às 5 horas da manhã.

Centrais sindicais, movimentos sociais e partidos de oposição se somaram à população da região e exigem a revogação de decretos legislativos enviados ao Congresso como parte da implementação do Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos. Conforme denunciam as entidades populares, o governo peruano está de mãos dadas - e atadas - com grandes grupos econômicos nacionais e internacionais, a quem entregou ilegalmente nos últimos anos 44 milhões de hectares, o equivalente a 68% do território amazônico do país.

Com cheque em branco para a sua covardia, as tropas não economizaram munição e abriram fogo contra civis desarmados. Muitos deles mulheres, crianças e idosos. Todos eles pobres. Todos eles invisíveis para os grandes meios de comunicação.

Apertando o gatilho, inoculadas com o vírus do entreguismo, as forças governamentais investiram ferozmente contra os manifestantes porque não podiam mais ouvir o patriotismo daquela gente, os reclamos contra leis que esquartejam a Amazônia para as transnacionais petroleiras e mineiras, sangrando as riquezas do país e de seu povo para o exterior. Seu chefe não agüentava mais o eco daquelas vozes dizendo não à liberação de formidáveis extensões da floresta à exploração da madeira e de sua rica biodiversidade. Assim, lá do alto, os gendarmes pensavam em resolver a questão, confiantes na impunidade dos anos em que a "globalização" e o "neoliberalismo" ditavam a justiça no Continente suprimindo o direito à vida e à soberania.

A magnitude do repúdio popular fez com que a estatal Petroperu - instrumentalizada para repassar os hidrocarbonetos às transnacionais -voltasse atrás e suspendesse temporariamente os serviços do único oleoduto que transporta o petróleo da região até o Pacífico. Multiplicam-se as denúncias contra o consórcio estrangeiro formado pela Pluspetrol (Repsol), Hunt Pipeline Company of Peru (Texas) e SK Corporation (Coréia do Sul), que ali atua, contamina e assassina.

A verdade grita, verte sangue e alimenta consciências, apesar das grotescas manipulações e do silêncio sepulcral de boa parte da mídia sobre o fato. A humanidade condena a matança e compara os crimes de Alan Garcia aos de Álvaro Uribe. Com práticas terroristas, ambos aceleram na contramão das mudanças que cobrem de orgulho e de futuro a nossa América.

Ser solidários à luta dos povos peruano e colombiano contra seus respectivos desgovernos é contribuir para que o trem da história não descarrilhe em opressão e barbárie. Mais, é permitir que sigam em frente, rumo a uma nova sociedade mais justa e solidária, socialista, com os países libertos de sua condição neocolonial, onde os homens exerçam, criativamente, seu protagonismo.

A data é propícia para reflexões. Afinal, foi num 14 de junho (próximo domingo) de 1894 que nasceu José Carlos Mariátegui, um dos maiores pensadores marxistas latino-americanos. É dele a frase "Certamente não queremos que o socialismo na América Latina seja cópia e decalque. Deve ser uma criação heróica. Temos de dar vida, com nossa própria realidade, em nossa própria linguagem, ao socialismo. Eis aqui uma missão digna de uma geração nova".

João Felício é secretário nacional Sindical do PT e secretário de Relações Internacionais da CUT

terça-feira, 9 de junho de 2009

O gasto calórico das danças!


O gasto calórico das danças

O excesso de gordura corporal é uma das principais preocupações das pessoas que buscam atividades físicas, entretanto muito mais por questões estéticas do que pelos riscos que essa condição traz à saúde.

A obesidade é uma doença multifatorial, ou seja, não tem uma causa única e isolada. Cerca de 95% dos casos estão intimamente ligados a fatores pertinentes ao estilo de vida. Assim, alterações comportamentais no que diz respeito aos hábitos alimentares e a prática de exercícios físicos, ou pelo menos um incremento na atividade física diária, podem ser bastante úteis na prevenção e no tratamento dessa doença.

Na escolha da atividade física a ser executada, a dança ganha, cada vez mais, lugar de destaque frente a outras atividades como esportes coletivos, ginásticas e até musculação. Dançar é uma atividade aeróbia, e de acordo com os tipos de movimentos executados, pode ser de baixa ou alta intensidade. O gasto calórico resultante de cada tipo de dança se deve também ao período e freqüência com que a atividade é executada.

Além da comprovada queima de calorias proporcionada por esta opção, a dança tem figurado em primeiro lugar no ranking de atividades preferidas, pois é uma das poucas que proporcionam prazer. A conseqüência mais importante disso é a verdadeira aderência a um novo estilo de vida. Ou seja, o indivíduo aguarda com prazer os resultados, que só aparecem depois de certo tempo. Observa-se, porém, um grande número de desistentes em outras modalidades físicas devido a rotina e ao desprazer que proporcionam.

Soma-se a isso outros diversos benefícios psicológicos como o aumento da auto-estima e redução do estresse, e sociais como estímulo ao convívio social e ampliação do círculo de amizades.

Mas entre os diversos tipos de dança, qual será a mais indicada para aqueles que estão interessados em perder alguns quilinhos extras? O gasto energético de cada estilo de dança pode ser estimado de acordo com cálculos que consideram os tipos e intensidades dos movimentos executados. Sendo assim, compare as calorias gastas para as diferentes modalidades praticadas num período de uma hora e escolha a melhor maneira de ficar em forma.


Tipo de dança Gasto calórico
Dança livre 328,50 kcal
Lambaeróbica 379,60 kcal
Dança de Salão 401,50 kcal
Ballet 438 kcal
Samba no pé 584 kcal
Salsa 511 kcal


Tatiane Duarte – Nutricionista e Dançarina – Contato: tatianeduarte@overdance.net

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A coisa Berlusconi, de Saramago




A coisa Berlusconi
José Saramago

Este artigo, com este mesmo título, foi publicado dia 06/06/2009 no jornal espanhol “El País”. Não podemos nos calar diante desta barbaridade na Itália!

A Coisa Berlusconi



Não vejo que outro nome lhe poderia dar. Uma coisa perigosamente parecida a um ser humano, uma coisa que dá festas, organiza orgias e manda num país chamado Itália. Esta coisa, esta doença, este vírus ameaça ser a causa da morte moral do país de Verdi se um vómito profundo não conseguir arrancá-la da consciência dos italianos antes que o veneno acabe por corroer-lhes as veias e destroçar o coração de uma das mais ricas culturas europeias. Os valores básicos da convivência humana são espezinhados todos os dias pelas patas viscosas da coisa Berlusconi que, entre os seus múltiplos talentos, tem uma habilidade funambulesca para abusar das palavras, pervertendo-lhes a intenção e o sentido, como é o caso do Pólo da Liberdade, que assim se chama o partido com que assaltou o poder. Chamei delinquente a esta coisa e não me arrependo. Por razões de natureza semântica e social que outros poderão explicar melhor que eu, o termo delinquente tem em Itália uma carga negativa muito mais forte que em qualquer outro idioma falado na Europa. Foi para traduzir de forma clara e contundente o que penso da coisa Berlusconi que utilizei o termo na acepção que a língua de Dante lhe vem dando habitualmente, embora seja mais do que duvidoso que Dante o tenha utilizado alguma vez. Delinquência, no meu português, significa, de acordo com os dicionários e a prática corrente da comunicação, “acto de cometer delitos, desobedecer a leis ou a padrões morais”. A definição assenta na coisa Berlusconi sem uma prega, sem uma ruga, a ponto de se parecer mais a uma segunda pele que à roupa que se põe em cima. Desde há anos que a coisa Berlusconi tem vindo a cometer delitos de variável mas sempre demonstrada gravidade. Além disso, não só tem desobedecido a leis como, pior ainda, as tem mandado fabricar para salvaguarda dos seus interesses públicos e particulares, de político, empresário e acompanhante de menores, e quanto aos padrões morais, nem vale a pena falar, não há quem não saiba em Itália e no mundo que a coisa Berlusconi há muito tempo que caiu na mais completa abjecção. Este é o primeiro-ministro italiano, esta é a coisa que o povo italiano por duas vezes elegeu para que lhe servisse de modelo, este é o caminho da ruína para onde estão a ser levados por arrastamento os valores que liberdade e dignidade impregnaram a música de Verdi e a acção política de Garibaldi, esses que fizeram da Itália do século XIX, durante a luta pela unificação, um guia espiritual da Europa e dos europeus. É isso que a coisa Berlusconi quer lançar para o caixote do lixo da História. Vão os italianos permiti-lo?

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Como a Globo Constrói seu Monopólio no Futebol Brasileiro!


Caros e Caras,

Faz tempo que não escrevo sobre futebol. Falta de inspiração... Esbocei uma narrativa sobre a minha escolha pelo Goiás Esporte Clube, mas não conclui.

Contudo, hoje fiquei instigado. Vi 4 vídeos, de um suposto globo reporter que não foi ao ar. É verdade que é meio requentado, pois o Kajuru conseguiu esses vídeos em 2007, salvo engano.

Mas não é pq é requentado que não tenha seu valor. Eu, que acompanho muito futebol, não tinha visto ainda. Assim como um amigo flamengueiro no msn.

São vídeos que mostram a farra que o senhor Ricardo Teixeira faz com a CBF. Algo inacreditável, com dados da CPI do Futebol, e que nunca vieram ao ar. Sabe pq? Pq isso surgiu só para garantir o monopólio da Globo com o futebol brasileiro. Em 2001, data que foi feita a matéria do Globo Reporter, era ano em que a Record fez uma proposta milionária e mais que o dobro do que a Globo pagava a CBF. O senhor Ricardo Teixeira ficou seduzido, mas logo a Globo deu seu jeito e o chantageou com estes vídeos.

Assim colocaram panos quentes na roubalheira do senhor presidente da CBF e no monopólio da Globo. Esse é o futebol brasileiro atual... A CBF é só uma imagem e semelhança do que são as federações estaduais. Muito se fala da federação do Rio, onde tem muita briga, roubo e maracutaia, mas todas são assim. Talvez no Rio seja mais escrachado e a torne mais transparente em apresentar a bagunça.

Postarei os vídeos em ordem de "interessância". Os dois primeiros, em sequência, são sobre os absurdos de Ricardo Teixeira. Os dois últimos, que seriam a parte inicial do Globo Reporter, estarão em ordem do começo do programa. Interessante notar que o programa cria todo um sentimento de defesa da seleção, um sentimento patriótico com a seleção brasileira de futebol pra depois detonar a CBF... Bom é que a Globo nunca inova... sempre no mesmo enredo... Será até quando isso vai dar certo? Enfim, com esse monopólio certamente teremos que lutar muito pra mudar essa história.

Não deixem de ver os vídeos:

Vídeo III: Começo das denúncias de Ricardo Teixeira



Vídeo IV: Continuação das Denúcias



Vídeo I: Dramatizando a Seleção Brasileira



Vídeo II: Jogadores Mercenários

quinta-feira, 4 de junho de 2009

SOBRE ESPONTANEISMO E VOLUNTARISMO

Caros e Caras,

Trago pro blog dois textos do Wladimir Pomar sobre um tema tão importante pra luta social. Na minha opinião é um debate que pouco se faz hoje e de grande importância. Vivemos um momento de refluxo dos movimentos sociais e de crise econômica que tentam fazer com que os trabalhadores paguem pela crise.

Debater hoje o espontaneismo e o voluntarismo é demasiadamente importante. Por isso, esse dois texto trazem uma visão muita saudável desse debate e ajuda a esquerda a pensar sua prática política.

Enfim, recomendo e muito a leitura.

Fui!



SOBRE ESPONTANEISMO E VOLUNTARISMO
A dinâmica de aprendizado das massas

Escrito por Wladimir Pomar 27-Mai-2009

Consideramos massas os conjuntos de trabalhadores e elementos populares que convivem numa determinada coletividade. Em outras palavras, não consideramos as massas populares ou trabalhadoras um conjunto uniforme, mesmo que pertencentes à mesma classe ou segmento social.

Portanto, sua dinâmica de aprendizado é dispersa e diferenciada, em virtude de suas próprias condições de trabalho e de vida. Além disso, disperso e diferenciado é também seu conhecimento sobre a realidade econômica, social, cultural e política, na qual essas massas estão inseridas. Afora o fato de possuírem baixa instrução escolar, elas são ainda bombardeadas intensamente por informações que, em geral, procuram mistificar e embaralhar a realidade.

Nessas condições, a escola de aprendizado das massas, onde quer que estejam, num chão de fábrica, numa vila rural, ou em qualquer outro tipo de coletividade, só pode ser a prática da luta, seja pela sobrevivência, seja pela conquista de direitos. É na luta que elas descobrem seus próprios problemas, ou os aspectos negativos de sua existência. É na luta que elas começam negando aqueles aspectos negativos, como passo necessário para aprender a apresentar propostas positivas.

É na luta de negação dos aspectos negativos de sua vida, seja a pouca comida do dia-a-dia, o pouco teto para se proteger, a pouca ou nenhuma terra para plantar, o baixo salário para fazer frente aos custos da vida etc. etc., que as massas apreendem a realidade. Mesmo que essa apreensão ainda seja parcial, e um início de busca de soluções, essa é sua dinâmica "normal" de aprendizado.

Por outro lado, a realidade está em constante mutação. Ela é histórica e nada tem de linear. Às vezes, produz fatos e aspectos negativos que fogem daquela "normalidade", rompem com a dinâmica "normal" e obrigam as massas a negações mais radicais. Crises econômicas e sociais, guerras, conflitos políticos etc. são aspectos de grande tensão na realidade. Mudam a vida das massas de forma ainda mais brutal, obrigando-as a buscar soluções impensáveis em tempos "normais".

Os voluntaristas, em geral, desprezam a dinâmica "normal". Acham que podem chegar, qualquer que seja o momento, e propor soluções próprias para momentos de grande tensão, acreditando que as massas os seguirão, dependendo apenas de capacidade de convencimento. Recusam-se a partir do nível real de aprendizado delas, e da realidade "normal", participando do processo real, às vezes lento, de luta e descoberta de problemas e soluções.

Com isso, frustram-se ao tentar impor uma dinâmica que nada tem a ver com a realidade, e para a qual as massas ainda não amadureceram. Culpam aos que procuram adaptar-se à dinâmica "normal", pela suposta inação das massas. E isolam-se, não raro descambando para o oposto do que propunham antes. Assim, quando os momentos de grande tensão se apresentam, não possuem elos de contato com as massas, que lhes permitam influenciar os acontecimentos.

Já os espontaneístas se subordinam totalmente à dinâmica "normal". Não vislumbram a possibilidade de saltos, nas descobertas das massas, quanto aos aspectos negativos da realidade, nem na criação de negações que correspondam a essas novas descobertas. Não se preparam para as grandes tensões e, quando estas se apresentam, são atropelados pelos acontecimentos.

Wladimir Pomar é escritor e analista político.


Ainda a dinâmica de aprendizado das massas
Escrito por Wladimir Pomar

02-Jun-2009

Para escapar do voluntarismo e do espontaneísmo, em primeiro lugar é necessário que os líderes e militantes dos partidos populares participem ativamente da dinâmica de aprendizado "normal" das massas. Como diziam alguns clássicos da "escola política do trabalho de massas", nesse processo é preciso "quase fundir-se" com as massas populares, de tal modo que elas reconheçam tais líderes e militantes como "companheiros de luta".

Embora só a prática leve as massas a comprovar que os aspectos negativos da realidade, decisivos em seu modo de trabalho e de vida, estão relacionados com o predomínio do capitalismo, isso não exclui que líderes e militantes populares realizem um constante trabalho de esclarecimento e organização. E que, para não ficar apenas no negativismo, reiterem sempre que "um outro mundo é possível", como solução para os problemas existentes.

Mas não vamos pensar que esse trabalho faça com que as massas "ganhem consciência" sobre democracia popular, socialismo ou o que quer que tenha sido apresentado como solução positiva. Quando elas forem à luta, elas irão para negar, liquidar ou extinguir os aspectos negativos da sua realidade. E, para ser realista, mesmo que tenham transformado uma dessas propostas em sua bandeira, elas terão pouca ou nenhuma idéia do seu significado ou conteúdo.

Por outro lado, quando as grandes tensões se apresentarem, as massas tenderão a reconhecer os líderes e militantes que, além de participarem de sua dinâmica "normal", também se tornaram referência na apresentação de soluções para tais tensões, e estarão mais propensas a segui-los.

Se examinarmos todas as experiências socialistas, vamos ver que a dinâmica "normal" de aprendizado das massas retornou após a realização das revoluções políticas e sociais. Seu nível real de consciência recolocou na ordem do dia a continuidade de um trabalho ativo de "quase fundir-se" com as massas e, portanto, a disputa contra o voluntarismo e o espontaneísmo.

Em sua dinâmica de aprendizado "normal", as massas têm sido capazes de mudar as políticas estabelecidas por líderes, partidos e governos populares no período revolucionário. Em alguns casos, extremaram suas tendências de igualitarismo por baixo. Em outros, resgataram formas de propriedade e de produção que lhes impuseram um desenvolvimento econômico e social desigual.

Ou seja, tanto impuseram avanços estratégicos, sem base material consistente para sua sustentação, quanto obrigaram a retiradas estratégicas, mesmo colocando em risco as conquistas principais. Portanto, a questão da dinâmica de aprendizado das massas populares, seja a "normal", seja a das "tensões", não é secundária, nem restrita a alguns momentos da história.

Ela é persistente. Deve estar presente enquanto o nível educacional e cultural das massas permanecer como componente da realidade de desigualdades econômicas, sociais e políticas. Quem não entender isso vai continuar tentando fazer o "assalto aos céus" sozinho.

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

A luta é dura, mas só ela muda a vida

Caros e Caras,

Hoje vou reproduzir um texto da minha querida amiga Alê Terribili, que foi publicado em seu blog www.terribili.blogspot.com.

Texto na minha opinião genial... Não resisti de repassar por aqui. Sei que boa parte dos leitores são os mesmos, mas não custa repeti pra que outros vejam!!!

Valeu Alê!!! Arrebentou!!!




A luta é dura, mas só ela muda a vida

Tem uma amiga minha que tem uma frase que eu gosto muito: a luta é dura, mas só ela muda a vida. Uma frase simples e tão completa. Tão verdadeira.

A gente luta porque não gosta do mundo como ele está – outra frase que gosto, de Paulo Freire: “o mundo não é, o mundo está sendo”. A gente acha que tem que ser diferente, que pode ser diferente, que é mentira que é natural.

A gente luta pra mudar as coisas que a gente acha que estão erradas. A gente luta pra convencer mais gente de que as coisas estão erradas e isso não é natural. A gente luta pra mais gente lutar também.

A luta é bonita. Mas ninguém disse que ela é fácil... cada tempo histórico traz dificuldades diferentes, inclusive. Lembro da Ermínia Maricato, num debate, respondendo a um companheiro de longa jornada na luta, que falava que sua frustração com o momento atual lhe doía mais do que a ingrata tarefa de sobreviver à ditadura. Ela bradava: “Não! A ditadura matava as pessoas! E nós estamos vivos!”

Mas são muitos os perigos desta vida. Ainda que hoje não haja uma ditadura que mate as pessoas. Lutar ainda é difícil, porque lutar ainda é ir contra a corrente.

A luta suga muito tempo da vida das pessoas. Perdem-se noites de sono, manhãs de preguiça, o cinema do sábado à tarde, a praia do fim de semana, perdem-se feriados, férias. A pessoa trabalha a semana inteira e depois, em vez de descansar, vai pra reunião, pra panfletagem, pro debate, pro seminário, pra eleição de não sei quê não sei onde.

A luta inclui muita gente. Gente sempre discorda entre si. É um inferno às vezes.

A luta não é livre das contradições do mundo que a luta quer transformar... entre os que lutam, tem disputa pouco nobre. Tem métodos pouco nobres servindo a essas disputas pouco nobres. Tem machismo, tem racismo, tem homofobia. Tem quem disputa poder afirmando preconceitos. Tem gente que disputa idéias armado até os dentes. Tem gente que acaba ferido por essas armas. Tem sectarismo. Tem isso de achar que só os seus valem (o sectarismo é um problema, não só porque ele faz “tratar pessoas mal”, ele condiciona a visão do mundo). Tem desrespeito, tem intolerância, tem donos da verdade. Tem tudo que no resto do mundo tem, afinal.

Essa constatação decepciona alguns e algumas. Espera-se, de quem luta, que esteja menos sujeito a determinados vícios que o mundo apresenta. Quem luta nasceu dentro desse mesmo mundo que quer transformar, sob suas normas, padrões, passou por processos semelhantes aos que todo mundo passa. Mas deve resistir. Tem que ser forte como a luta exige que seja, também pra não se render. Porque tem menos o direito de se render, por ter feito essa opção. Tem menos direito de se render, porque vê um mundo errado e não tem direito de fingir que não. Se fingir, atesta o que dizem aqueles que naturalizam tudo o que tá errado no mundo. Não pode.

Muitos o fazem. Não deviam. Diminuem o brilho do que a gente diz.

Muitos seguem o canto da sereia. Muitos desistem da luta por muitas razões – decepção com as contradições, desânimo com as dificuldades. Muitos trocam seus sonhos coletivos por sonhos individuais e mesquinhos. Muitos nem sequer tiveram esses sonhos verdadeiramente... pra quem segue na luta, é sempre um golpe observar todas essas situações.

Mas é só a luta que muda a vida. É dura. Tem essas contradições, tem a necessidade de sobreviver, às vezes parece que não tem resultado – é que nem sempre é simples enxergar processos históricos se desenrolando, se acumulando. A luta é dura. Mas nós estamos vivos, e em movimento, o que haveríamos de fazer, então? A luta é dura, mas a vida é mais dura. A luta é dura, as pessoas são imperfeitas, nós somos frágeis, as tentações para desistir são muitas, mas nós precisamos continuar.

Não sou sectária o suficiente pra aprender só com uma parte. Aprendo quase o tempo todo e adoro roubar pra mim o que cada lutador ou lutadora tem de melhor. Faço as minhas opções sem desistir de entender as dos outros que também lutam. Não acho que só eu estou do lado certo. Acho que estou do lado onde luto melhor.

Assim como Vinícius Carpinejar, todos os dias eu acordo serelepe para me conciliar com novas expectativas. Minha esperança é intocável. E eu não sou rancorosa. Tem a ver com isso. A luta é parte de mim e isso não me abala. Não sei se lutaria se não fosse cheia de esperança como sou. Recuso-me a olhar o mundo com a tristeza de quem lamenta o inalterável.

A luta é dura, mas é bonita. “E quem vai se importar com a dureza do mundo, se tem tanta coisa bonita?”, vem a questão. Mas no fim, é só isso mesmo: a luta é dura, mas só ela muda a vida. Não precisa de mais motivos.

Alessandra

terça-feira, 2 de junho de 2009

A UNE, há 30 anos: o histórico "Congresso da Reconstrução"


1 de junho de 2009
A UNE, há 30 anos: o histórico "Congresso da Reconstrução"- por Celso Marcondes

Nos dias 29 e 30 de maio de 1979 acontecia em Salvador, o 31º. Congresso da União Nacional dos Estudantes, o "Congresso da Reconstrução", um evento histórico. Marcava o fim de 13 anos de ilegalidade, no momento que crescia a pressão sobre a ditadura militar.


O Congresso foi o resultado final de um árduo processo, pavimentado por quatro Encontros Nacionais de Estudantes e inúmeras reuniões. Participei de todos, entre eles o de junho de 1977, em Belo Horizonte, que foi o "Encontro que não ocorreu", porque a PM cercou todo o centro da cidade e as proximidades da Universidade Federal de Minas Gerais. Partimos de São Paulo de madrugada e voltamos ao final da tarde, depois de muito andar perdido por BH. Éramos cinco num Passat, ida eufórica, volta frustrada.


Também inesquecível foi o seguinte, na PUC de São Paulo, em setembro do mesmo ano. Proibido pelo famigerado coronel Erasmo Dias, secretário da Segurança Pública, mesmo assim o 3º Encontro aconteceria, em formato reduzido, numa sala de aula da universidade, onde não éramos mais de 40 pessoas.


Irado, o coronel, assim que soube da realização do evento que havia burlado seu aparato, disparou a vingança sobre os mais de mil estudantes que realizavam na mesma noite um ato comemorativo da façanha. O resultado, todos conhecem: 900 estudantes presos, dezenas de feridos, alguns graves. Um dia para jamais esquecer.


Menos de um ano depois, no ainda em obras Centro de Convenções cedido pelo governador Antonio Carlos Magalhães, 10 mil estudantes se encontraram. Deles, 3.304 eram delegados eleitos em assembléias nas suas bases. À mesa, entre outros ilustres, José Serra e José Genoíno, ex-presidentes da UNE.


Não, leitor, eu não estava lá. Desta vez por um golpe de azar: nas vésperas do Congresso fui "transferido" — era assim que as organizações de esquerda chamavam as mudanças de área de atuação de seus militantes — e saí do movimento estudantil. Acompanhei o Congresso pela imprensa com uma lupa e muita frustração, aquela sensação de perder o melhor da festa.


Para escrever hoje tenho que recorrer a fragmentos da minha memória já um tanto gasta, recordando conversas com companheiros que voltaram de lá entusiasmados. E a depoimentos de quem viveu de dentro aquele momento. A internet me salva: no site da Fundação Cásper Líbero, Thais Sauaya Pereira, publica uma bela crônica, na qual conta sua aventura quando tinha 20 anos e pertencia à diretoria do Centro Acadêmico da Faculdade de Química da USP. Thais foi até Salvador de ônibus, fretado por mais de 40 estudantes paulistas. Ela fala da viagem de mais de 50 horas:


"Na ansiedade esfuziante, não diferíamos muito dos ônibus de excursão do ginásio, nem daqueles das torcidas de futebol. No entanto, tínhamos consciência de que aquele era um momento histórico: discutíamos com paixão o socialismo, a guerrilha, a ditadura, os rachas nas organizações clandestinas, os professores, as relações afetivas, o aborto, a falta de grana, o amor livre, morar sem os pais, as drogas, o cinema, Marx, Lênin, Engels, Trotsky, Stálin, Brecht, Chaplin, Glauber, Vittorio de Sica... enfim, o mundo".


O Congresso ganhou o nome de Honestino Guimarães, último presidente da UNE, eleito em 1970, quando a entidade atuava muito precariamente na clandestinidade. Honestino era estudante da Universidade de Brasília, foi preso pelo Centro de Informações da Marinha (Cenimar), está desaparecido até hoje.


Javier Alfaia também estava presente e se tornaria presidente da entidade dois congressos depois. Em 1999 ele era vereador em Salvador. Aí, na Câmara Municipal, em sessão que comemorava os 20 anos do Congresso, ele discursou contando um pouco do clima na data:


"Enfrentando sucessivos cortes de energia elétrica, lançamento de substâncias tóxicas que irritavam os olhos de delegados e dirigentes da mesa, com os jeans ainda mais esbranquiçados pela caliça que se espalhava por todo canto daquele prédio em construção, nós consolidamos um marco na retomada do processo democrático".


E falava com orgulho do povo soteropolitano: "Salvador recebeu a UNE de braços abertos. O Congresso mobilizou esta cidade. As famílias ligavam para os diretórios acadêmicos, para o DCE, e colocavam suas casas à disposição para receber os estudantes. Nós listamos cinco mil vagas de hospedagem em residências particulares, em casas de companheiros, de professores, em instituições".


Foram dois dias de debates, de desencontros, de confusões. De sons, músicas e gritos. De oradores efusivos e de "questões de ordem". De tensões e temores, de coragem e energia. As diversas "tendências", que era o nome que dávamos na época aos agrupamentos políticos dos estudantes, conduziram os debates. Por trás delas, grupos e organizações clandestinas se construíam, em tempos que só dois arremedos de partidos eram permitidos pela ditadura, a Arena e o MDB.


"Caminhando", "Liberdade e Luta", "Refazendo", "Novo Rumo", "Centelha" eram os nomes de algumas delas, que reuniam então centenas, até milhares, de adeptos. Depois de muita discussão conseguiram aprovar uma "Carta de Princípios", que seria a referência para a entidade que renascia.


Um grande debate tomou conta do encontro. Eleger ou não ali mesmo o presidente da entidade? Venceu a proposta das eleições diretas, que acabaram ocorrendo por todo o País em 3 e 4 de outubro, alguns meses depois. O baiano Ruy Cezar Costa Silva, estudante de comunicações na Universidade Federal da Bahia, foi eleito presidente.


A UNE renascia, quando movimento estudantil saudava a entrada em cena do movimento operário. Depois das greves metalúrgicas do ABC em 1978 e 79, lideradas por um certo Lula da Silva, os militares e seus apoiadores viam crescer uma oposição que logo se tornaria insustentável.


Thais resume o significado de tudo: "Naquele momento, a UNE era o maior símbolo de organização perseguida pela ditadura. Os sindicatos estavam sob intervenção, não havia uma organização geral de trabalhadores. A UNE era a única entidade nacional, afora a ABI, afora a OAB, que tinha uma base social significativa, era a única organização de caráter nacional que representava um corpo social expressivo e significativo em nossa sociedade. A reconstrução da UNE foi o símbolo das conquistas democráticas pelas quais o Brasil tanto precisava passar, foi uma contribuição fundamental e decisiva ao processo de democratização do país".

Boa, Thais, assino embaixo.


Nesta semana que encerra maio, em vários cantos do país, a data está sendo lembrada. Em Araraquara, Salvador e Porto Alegre acontecem algumas delas. Enquanto isso, a UNE já prepara seu 50º. Congresso, que acontecerá de 15 a 19 de julho, em Brasília. E que CartaCapital começa a cobrir a partir de hoje.


* Celso Marcondes é colunista da Revista Carta Capital

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Um terrorista em cartaz na Câmara

do blog do jornalista Walter Rodrigues:


Um terrorista em cartaz na Câmara

Noticia-se que o capitão Jair Bolsonaro (PP-RJ), num gesto de inclassificável ignominia, exibe no seu gabinete um cartaz ilustrado com os dizeres:

— “Desaparecidos da Guerrilha do Araguaia: quem procura osso é cachorro”.


A ignomínia do gesto dispensa comentários. Qualquer um que se dê respeito só pode sentir desprezo e horror diante de semelhante besta-fera. Trata-se de um desses tipos que envergonham a raça humana, assim como outros contribuem para enaltecê-la.

E não se diga que foi apenas um momento “infeliz”. Bolsonaro é realmente um homem cruel, mais que isso, um consumado terrorista moral, a quem só falta a oportunidade para realizar sua natureza.

Já chegou perto perto, aliás. Em 1987, no governo do presidente Sarney, o então capitão Bolsonaro contou a uma repórter de Veja, numa conversa “informal”, tomando café num bar, que se o Governo desse aos militares um aumento menor que 60%, ele e outros como ele apelariam para a violência. Essa consistiria na explosão de bombas em estabelecimentos militares, como a Vila Militar e a Academia das Agulhas Negras.

Enquanto falava, Bolsonaro desenhou num guardanapo de papel o diagrama de uma bomba de fabricação caseira, dessas que terroristas aprendem a fabricar no mundo inteiro.

Embora tenha tido o cuidado de guardar o papelucho com os rabiscos do capitão, a repórter padeceu suas dúvidas naturais. Fazia a matéria ou tratava aquilo como bravata de um maluco exibicionista? Optou pelo caminho certo, com apoio do editor que publicou o furo. Saiu na Veja de 28 de outubro de 1987.

Bolsonaro negou a denúncia sem convencer ninguém, mas nunca foi seriamente investigado por suas conexões com suposta Operação Beco sem Saída, a tal das bombas. Em honra do Exército, recorde-se que o ex-ministro general Leônidas Pires Gonçalves o declarou oficialmente “indigno para o oficialato”. O Superior Tribunal Militar anulou a punição, com base numa formalidade qualquer, mas a carreia dele não foi adiante. Virou político e porta-voz da extrema-direita exasperada.

O Brasil acaba de prender um cidadão de origem árabe que mandava pela internet mensagens de cunho racista e supostamente “terrorista” para os Estados Unidos. Uma notícia da Folha de S.Paulo, baseada em fontes estadunidenses, tentou ligá-lo à Al-Qaeda, mas o Ministério da Justiça desmentiu o boato. Tudo indica que estão procurando terroristas no lugar errado.

Veja abaixo o cartaz terrorista, na foto de Rogério Tomaz, do Coletivo Intervozes.

sábado, 30 de maio de 2009

Sobre as Coréias!


Sobre a Guerra da Coréia

Caros e Caras,

Trago no blog hoje um bom texto sobre a guerra da coréia. O motivo deste texto é tentar entender um pouco do que está acontecendo hoje em dia na península coreana.

São anos de ocupação japonesa, depois norte-americana e uma longa história que precisa ser conhecida e não ficar réfem da opinião da mídia.

Este texto foi publicado no Le MOnde Diplomatique em dezembro de 2004.

CORÉIA DO NORTE

Memórias de fogo

Os Estados Unidos, que acusam a Coréia de estar produzindo armas de
destruição em massa, não hesitaram, desde os anos 40, em usá-las. É esta a
história desconhecida da guerra do Coréia, que aniquilou cidades e matou
milhões de pessoas com bombardeios de napalm



Bruce Cumings


Na Coréia, foi despejada uma quantidade maior de napalm do que no Vietnã,
com efeito bem mais devastador


Mais que uma guerra "esquecida", valeria a pena falar, tratando-se da
guerra da Coréia (1950-1953), de uma guerra desconhecida. O efeito
inacreditavelmente destrutivo das campanhas aéreas norte-americanas contra
a Coréia do Norte – que foram do despejo contínuo e em grande escala de
bombas incendiárias (essencialmente com napalm) às ameaças de recurso a
armas nucleares e químicas1 e à destruição de gigantescas barragens
norte-coreanas na fase final da guerra – é indelével. Estes fatos são no
entanto pouco conhecidos, mesmo pelos historiadores, e as análises da
imprensa sobre o problema nuclear norte-coreano nestes últimos dez anos
nunca as mencionaram.


A guerra da Coréia tem fama de ter sido limitada, mas ela foi bem parecida
com a guerra aérea contra o Japão imperial durante a Segunda Guerra
mundial. E foi freqüentemente dirigida pelos mesmos responsáveis militares
norte-americanos. Se os ataques de Hiroshima e Nagasaki foram objeto de
inúmeras análises, os bombardeios incendiários contra as cidades japonesas
e coreanas receberam bem menos atenção. Quanto às estratégias nuclear e
aérea de Washington no nordeste asiático depois da guerra da Coréia, estas
foram ainda menos compreendidas, ao passo que estas estratégias definiram
as escolhas norte-coreanas e permanecem um fator chave na elaboração da
estratégia norte-americana em matéria de segurança nacional. (...)


O napalm foi inventado no fim da Segunda Guerra mundial. Sua utilização
provocou um debate de grandes proporções durante a guerra do Vietnã,
fomentado por fotos intoleráveis de crianças que corriam nuas sobre as
estradas, com a pele em farrapos... Uma quantidade ainda maior de napalm
foi no entanto despejada sobre a Coréia, com efeito bem mais devastador,
porque a República Popular Democrática da Coréia (RPDC) tinha maior número
de cidades populosas que o Vietnã do Norte. Em 2003, eu participe de uma
conferência ao lado de ex-combatentes norte-americanos da guerra da
Coréia. No momento de uma discussão a respeito de napalm, um sobrevivente
da batalha do Reservatório de Changjin (Chosin, em japonês), que havia
perdido um olho e uma parte da perna, afirmou que esta arma era, bem
entendido, ignóbil, mas que ela «caíra sobre as pessoas boas».


Cenas macabras
Quando o napalm havia queimado completamente a pele, ela se descolava em
farrapos do rosto, dos braços, das pernas.. como batatas chips


As pessoas boas? Como quando um bombardeio atingiu por engano uma dúzia de
soldados norte-americanos: "Em toda minha volta os homens estavam
queimados. Eles rolavam na neve. Homens que eu conhecia, com quem eu havia
marchado e combatido, suplicavam que eu atirasse neles... Era terrível.
Quando o napalm havia queimado completamente a pele, ela se descolava em
farrapos do rosto, dos braços, das pernas... como batatas chips2".


Um pouco mais tarde, George Barrett, do New York Times, descobriu um
"tributo macabro à totalidade da guerra moderna" numa vila ao norte de
Anyang (Coréia do Sul): "Os habitantes de toda a cidade e dos campos em
torno foram mortos e conservaram exatamente a posição em que estavam
quando foram atingidos pelo napalm: um homem se preparava para montar na
bicicleta, cinco dezenas de crianças brincavam num orfanato, uma mãe de
família estranhamente intacta tinha na mão uma página do catálogo
Sears-Roebuck onde estava o pedido n° 3 811 294 de uma ‘encantadora
espreguiçadeira de cor coral’". Dean Acheson, secretário de Estado, queria
que este tipo de «reportagem sensacionalista» fosse denunciada à censura,
a fim de que se possa nelas colocar um fim3.


Uma das primeiras ordens para incendiar as cidades e as vilas que
encontrei nos arquivos foi dada no extremo sudeste da Coréia, enquanto
combates violentos se desenrolavam ao longo do perímetro de Pusan. Era o
começo de agosto de 1950, quando milhares de guerrilheiros assediavam os
soldados norte-americanos. No dia 6 de agosto de 1950, um oficial
norte-americano deu à força aérea a ordem de "obliterar as seguintes
cidades": Chongsong, Chinbo e Kusu-Dong. Bombardeiros estratégicos B-29
foram igualmente empregados para bombardeios táticos. No dia 16 de agosto,
cinco formações de B-29 atacaram uma zona retangular próxima ao front, que
contava um grande número de cidades e vilas. Criaram um oceano de fogo,
despejando centenas de toneladas de napalm. Uma ordem semelhante foi
emitida no dia 20 de agosto. E no dia 26 de agosto, encontramos nestes
mesmos arquivos a simples menção: "onze vilas incendiadas4". (...)


Chuvas de napalm
Os pilotos despejavam enormes quantidades de napalm sobre objetivos
secundários, se o alvo principal não fosse atingido


Os pilotos tinham ordem de atacar os alvos que eles pudessem discernir
para evitar atingir civis, mas eles bombardeavam freqüentemente centros
populacionais importantes identificados por radar, ou despejavam enormes
quantidades de napalm sobre objetivos secundários, nos casos em que o alvo
principal não pôde ser atingido. A cidade industiral de Hungnam foi alvo
de um ataque maior no dia 31 de julho de 1950, no curso do qual 500
toneladas de bombas foram soltas através das nuvens. As chamas se elevaram
a até uma centena de metros. O exército norte-americano despejou 625
toneladas de bombas sobre a Coréia do Norte no dia 12 de agosto, uma
tonelagem que teria requerido uma frota de 250 B-17 durante a Segunda
Guerra mundial. No fim de agosto, as formações de B-29 derramavam 800
toneladas de bombas por dia sobre o Norte5. Esta tonelagem consistia em
grande parte em napalm puro. De junho a fim de outubro de 1950, os B-29
derramaram 3,2 milhões de litros de napalm.


No seio da força aérea norte-americna, alguns se deleitavam com as
virtudes deste exército relativamente novo, introduzido no fim da guerra
precedente, rindo-se dos protestos comunistas e confundindo a imprensa ao
falar de "bombardeios de precisão". Os civis, gostavam eles de supor, eram
prevenidos da chegada dos bombardeiros por panfletos, enquanto que todos
os pilotos sabiam que estes panfletos não tinham qualquer efeito6. Isso
não era mais que um prelúdio da destruição da maioria das cidades e vilas
norte-coreanas que iria se seguir à entrada da China na guerra.


A entrada dos chineses no conflito provocou uma escalada imediata da
campanha aérea. A contar do início de novembro de 1950, o general
MacArthur ordenou que a zona situada entre o front e a fronteira chinesa
fosse transformada em deserto, que a viação destruísse todos os
"equipamentos, usinas, cidades e vilas" nos milhares de quilômetros
quadrados do território norte-coreano. Como relatou um assessor militar
britânico do quartel-general de MacArthur, o general norte-americano deu
ordem para "destruir todos os meios de comunicação, todos os equipamentos,
usinas, cidades e vilas", com exceção das barragens de Najin, próximas à
fronteira soviética e de Yalu (poupadas para não provocar Moscou e
Pequim). "Esta destruição [deveria] começar na fronteira manchu e
continuar em direção ao sul". No dia 8 de novembro de 1950, 79 B-29
despejaram 550 toneladas de bombas incendiárias sobre Sinuiju, "riscando
[a cidade] do mapa". Uma semana depois, um dilúvio de napalm se abatia
sobre Hoeryong "com o objetivo de liquidar o local". No dia 25 de
novembro, "uma grande parte da região noroeste entre Yalu e as linhas
inimigas mais ao sul [...] está mais ou menos incendiada". A zona logo
iria se tornar uma "extensão deserta de terra queimada7".


Ameaça atômica
Em várias ocasiões, o uso de bomba atômica foi considerado e debatido
entre os comandantes americanos


Tudo isso se passava antes da grande ofensiva sino-coreana, que expulsou
as foças da ONU do norte da Coréia. No início do ataque, nos dias 14 e 15
de dezembro, a aviação norte-americana soltava sobre Pyongyang 700 bombas
de 500 libras, napalm derramado por aviões de combate Mustang, e 175
toneladas de bombas de demolição de efeito retardado, que aterrorizavam
com um barulho surdo e explodiam em seguida, quando as pessoas tentavam
salvar os mortos dos braseiros acesos pelo napalm. No início de janeiro, o
general Ridgeway ordenou de novo qua a aviação atacasse a capital
Pyongyang "com o objetivo que foi alcançado em dois tempos, nos dias 3 e 5
de janeiro". À medida que os norte-americanos se retiravam para o sul do
paralelo 30, a política incendiária da terra arrasada prosseguiu:
Uijongbu, Wonju e outras pequenas cidades do sul, das quais o inimigo se
aproximava, foram a presa das chamas8.


A aviação militar tentou também decapitar a direção norte-coreana. Durante
a guerra no Iraque em março de 2003, o mundo conheceu a existência da
bomba denominada "MOAB" (Mother of all bombs, ou Mãe de todas as bombas),
que pesa 21.500 libras e tem uma capacidade explosiva de 18 mil libras de
TNT. A Newsweek publicou uma foto dela em sua capa, com o título "Por que
a América dá medo no mundo? 9". No decurso do inverno de 1950-1951, Kim Il
Sung e seus aliados mais próximos haviam voltado a seu ponto de partida
dos anos 30 e se abrigavam em profundos bunkers em Kanggye, perto da
fronteira manchu. Depois de três meses de vãs buscas a partir do
desembarque de Inch’on, os B-29 despejaram bombas "Tarzan" sobre Kanggye.
Tratava-se de uma bomba nova, enorme, de 12 mil libras, nunca utilizada
antes. Mas não era mais que um foguete ao lado da arma incendiária final,
a bomba atômica.


No dia 9 de julho de 1950, apenas duas semanas depois do começo da guerra,
o general MacArthur enviou ao general Ridgeway uma "mensagem urgente" que
incitou os chefes do Estado Maior (CEM) "a examinar se seria necessário ou
não dar ’bombas A’ a MacArthur". O general Charles Bolte, chefe das
operações, foi encarregado de discutir com MacArthur sobre a utilização de
bombas atômicas "em apoio direto aos combates terrestres". Bolte avaliava
que se poderia reservar de dez a vinte bombas para o teatro coreano sem
que as capacidades militares globais dos Estados Unidos se encontrassem
afetadas "além da medida". MacArthur sugeriu a Bolte uma utilização tática
das armas atômicas e lhe fez uma exposição sumária das ambições
extraordinárias que ele alimentava no âmbito da guerra, especialmente a
ocupação do Norte e uma resposta a uma potencial intervenção chinesa ou
soviética, como segue: «Eu os isolarei na Coréia do Norte. Na Coréia, eu
vejo um beco sem saída. Apenas as passagens provenientes da Manchúria e
Vladivostock comportam inúmeros túneis e pontes. Eu vejo aí uma ocasião
única de utilizar a bomba atômica, para fazer um ataque que barraria a
estrada e demandaria um trabalho de reparação de seis meses".


A China na mira
As armas atômicas não seriam empregadas na Coréia, exceto em uma campanha
atômica contra a China maoísta


Nesta fase da guerra, no entanto, os chefes do Estado Maior rejeitaram o
uso da bomba, pois faltavam alvos suficicientemente importantes para
necessitar de armas nucleares; temiam também as reações da opinião mundial
cinco anos após Hiroshima e esperavam que o curso da guerra fosse mudado
por meios militares clássicos. O cálculo não foi mais o mesmo desde que
consideráveis contingentes de soldados chineses entraram na guerra em
outubro de 1950.


Na ocasião de uma famosa entrevista coletiva, no dia 30 de novembro, o
presidente Truman desfraldou a ameaça da bomba atômica10. Não era um
blefe, como se supunha então. No mesmo dia, o general da força aérea
Stratemeyer enviou ordem ao general Hoyt Vandenberg para colocar em alerta
o comando aéreo estratégico "a fim de que ele esteja pronto para enviar
sem atraso formações de bombardeiros equipados de bombas médias ao Extremo
Oriente [...] este suplemento [devendo] compreender capacidades atômicas".


O brigadeiro Curtis LeMay se lembra claramente que os CEM haviam chegado
anteriormente à conclusão de que as armas atômicas provavelmente não
seriam empregadas na Coréia, exceto no caso de uma "campanha atômica geral
contra a China maoísta". Mas, como as ordens mudavam em razão da entrada
das forças chinesas na guerra, LeMay queria ser encarregado da tarefa; ele
declarou a Stratemeyer que seu quartel general era o único a possuir a
experiência, a formação técnica e "o conhecimento íntimo" dos métodos de
lançamento. O homem que dirigiu o bombardeio incendiário de Tóquio em
março de 1945 estava pronto a voltar ao Extremo Oriente para comandar os
ataques11. Washington se preocupava pouco, na época, em saber como Moscou
iria reagir, pois os norte-americanos possuíam ao menos 450 bombas
atômicas, enquanto os soviéticos tinham apenas 25.


Planos de ataque
MacArthur afirmava ter um plano que permitiria ganhar a guerra em dez
dias, usando bombas de cobalto


Pouco tempo depois, no dia 9 de dezembro, MacArthur fez saber que queria
um poder discricionário no que dizia respeito à utilização de armas
atômicas sobre o teatro coreano, e, no dia 24 de dezembro, ele entregou
uma "lista de alvos que devem retardar o avanço inimigo" para os quais ele
dizia ter necessidade de 26 bombas atômicas. Ele pedia, além disso, que
quatro bombas fossem lançadas sobre as "forças de invasão" e quatro outras
sobre as "concentrações inimigas cruciais de meios aéreos".


Em entrevistas divulgadas depois de sua morte, MacArthur afirmava ter um
plano que permitia ganhar a guerra em dez dias: "eu teria despejado três
dezenas de bombas atômicas [...] arrasando tudo ao longo da fronteira com
a Manchúria". Ele teria em seguida levado 500 mil soldados da China
nacionalista a Yalu, depois teria "espalhado atrás de nós, do mar do Japão
ao mar Amarelo, um cinturão de cobalto radioativo [...] cuja duração de
vida ativa se situa entre 60 e 120 anos. Durante 60 anos ao menos, não
seria possível uma invasão terrestre da Coréia pelo norte". Ele tinha
certeza de que os Russos nada fariam diante desta estratégia do extremo:
"Meu plano era simples como um bom-dia12".


A radioatividade do cobalto 60 é 320 vezes mais elevadas que a do rádio.
Segundo o historiador Carroll Quigley, uma bomba H de 400 toneladas de
cobalto poderia destruir toda vida animal sobre a terra. As propostas
belicistas de MacArthur parecem insensatas, mas ele não era o único a
pensar dessa maneira. Antes da ofensiva sino-coreana, um comitê submetido
aos chefes do Estado Maior havia declarado que as bombas atômicas poderiam
se mostrar como "fator decisivo" que bloquearia o avanço chinês na Coréia.
No início, via-se eventualmente sua utilização num "cordão sanitário [que
poderia] ser estabelecido pela ONU, seguindo uma faixa situada da
Manchúria até o norte da fronteira coreana".


Sugestão de cataclisma
Em 1951, Truman se livrou de MacArthur para manter aberta sua política em
matéria de armas atômicas


Alguns meses mais tarde, o deputado Albert Gore (o pai de Al Gore,
candidato democrata derrotado em 2000, que se opôs em seguida à guerra do
Vietnã), deplorava que "a Coréia [faça] a cama da virilidade
norte-americana" e sugeria que se pusesse um fim à guerra com "alguma
coisa cataclísmica" - a saber, um cinturão radioativo que dividiria a
península coreana em duas de maneira permanente. Ainda que o general
Ridgeway não tenha falado de bomba de cobalto, depois de ter sucedido
MacArthur enquanto comandante norte-americano na Coréia, ele renovou em
maio de 1951 o pedido formulado por seu predecessor no dia 24 de dezembro,
reivindicando desta vez 38 bombas atômicas13. Esse pedido não foi aceito.


No início de abril de 1951, os Estados Unidos estiveram a um passo de
utilizar armas atômicas, no momento, precisamente, em que Truman destituía
MacArthur. Se as informações a respeito desse episódio permaneceram ainda
em grande parte classificadas como secretas, é agora claro que Truman não
destituiu MacArthur unicamente em razão de sua insubordinação reiterada,
mas porque ele queria um comandante confiável no local, caso Washington
decidisse recorrer às armas atômicas. Em outros termos, Truman se livrou
de MacArthur para manter aberta sua política em matéria de armas atômicas.
No dia 10 de março de 1951, depois que os chineses concentraram novas
forças perto da fronteira coreana e que os soviéticos estacionaram 200
bombardeiros sobre as bases aéreas da Manchúria (de onde eles poderiam
atingir não apenas a Coréia, mas as bases norte-americanas no Japão) 14,
MacArthur pediu uma "força atômica do tipo Dia D", a fim de conservar a
superioridade aérea no teatro coreano. No dia 14 de março, o general
Vandenberg escrevia: "Finletter e Lovett alertados sobre as discussões
atômicas. Eu creio que está tudo pronto". Fim de março, Stratemeyer
relatou que os fossos de carregamento de bombas atômicas sobre a base
aérea de Kadena, em Okinawa, estavam novamente operacionais. As bombas
foram transportadas para lá em peças separadas e montadas depois na base,
faltando apenas carregar o miolo nuclear. No dia 5 de abril, os CEM
ordenaram que represálias atômicas imediatas fossem lançadas contra as
bases manchus se novos contingentes importantes de soldados chineses se
juntassem aos combates ou, ao que parece, se bombardeiros partissem de lá
contra posições norte-americanas. No mesmo dia, Gordon Dean, presidente da
Comissão sobre Energia Atômica, tomou medidas para fazer a transferência
de nove ogivas nucleares Mark IV para o 9o grupo de bombardeiros da
aviação militar, destinado ao transporte de bombas atômicas. (…)


Milhões de mortos
Durante três anos, os norte-coreanos se viram diante da ameaça cotidiana
de serem queimados pelo napalm


Os chefes do Estado Maior cogitaram novamente o emprego de armas nucleares
em junho de 1951 – desta vez, do ponto de vista tático sobre o campo de
batalha15 – e foi o caso de várias outras situações até 1953. Robert
Oppenheimer, ex-diretor do Projeto Manhattan, trabalhou sobre o "Projeto
Vista", destinado a avaliar a viabilidade do uso tático de armas atômicas.
No início de 1951, um jovem chamado Samuel Cohen, que estava em missão
secreta para o departamento de defesa, estudou as batalhas que conduziram
à segunda tomada de Seul e concluiu que deveria existir um meio de
destruir o inimigo sem destruir a cidade. Ele se tornaria o pai da bomba
de nêutrons16.


O projeto nuclear mais aterrorizante dos Estados Unidos na Coréia foi
provavelmente a operação Hudson Harbor. Esta operação parece ter feito
parte de um projeto mais vasto que tratava da «especulação aberta pelo
departamento de defesa e especulação clandestina por parte da Central
Intelligence Agency, na Coréia, sobre a possibilidade de utilizar novas
armas» (um eufemismo designando o que se chama hoje de armas de destruição
em massa). (...)


Sem recorrer às «novas armas», ainda que o napalm fosse muito novo na
época, a ofensiva aérea não deixou de arrasar a Coréia do Norte e de matar
milhões de civis antes do fim da guerra. Durante três anos, os
norte-coreanos se viram diante da ameaça cotidiana de serem queimados pelo
napalm: "Não se podia escapar", disse-me um deles em 1981. Em 1952,
praticamente tudo havia sido completamente arrasado no centro e no norte
da Coréia. Os sobreviventes viviam em grutas. (...)


Cidades aniquilidadas
Depois do armistício, das 22 principais cidades do país, 18 haviam sido
aniquladas no mínimo pela metade


No decorrer da guerra, escrevia Conrad Crane, a força aérea
norte-americana «provocou uma destruição terrível em toda a Coréia do
Norte. A avaliação, na época do armistício, dos prejuízos causados pelos
bombardeios revelou que das 22 principais cidades do país, 18 haviam sido
aniquiladas no mínimo pela metade». Sobressaía de um quadro estabelecido
pelo autor que as grandes cidades industriais de Hamh˘ung e de H˘ungnam
haviam sido destruídas em 80 a 85%, Sariw˘on em 95%, Sinanju em 100%, o
porto de Chinnamp’o em 80% e Pyongyang em 75%. Um jornalista britânico
descrevia uma das milhares de vilas aniquiladas como "um montículo
expandido de cinzas violetas". O general William Dean, que foi capturado
depois de batalha de Taej˘on, em julho de 1950, e levado ao Norte,
declarou em seguida que da maioria das cidades e vilas que ele viu, não
restou mais que "entulho ou ruínas cobertas de neve". Todos os coreanos
que ele encontrou, ou quase, haviam perdido um parente no bombardeio17.
Winston Churchill, no fim da guerra, se emocionou e declarou a Washington
que no momento em que o napalm foi inventado no fim da Segunda Guerra
mundial, ninguém imaginava que se iria "aspergi-lo" sobre uma população
civil18.


Tal foi a "guerra limitada" travada na Coréia. À guisa de epitáfio para
esta guerra aérea desenfreada, citemos o ponto de vista de seu arquiteto,
o general Curtis LeMay, que declarou depois do início do conflito: "De
certa forma nós colocamos por baixo da porta do Pentágono um bilhete
dizendo: ‘Nos deixem ir até lá [...] incendiar cinco das maiores cidades
da Coréia do Norte – elas não são muito grandes – isso deverá acertar as
coisas’. Bem, nos responderam aos gritos – ‘Vocês vão matar inúmeros
civis’ e ‘é horrível demais’. No entanto, em três anos (...) nós
incendiamos todas [sic] as cidades da Coréia do Norte, assim como da
Coréia do Sul (...). Em três anos, é aceitável, mas matar algumas pessoas
para resolver o problema, muita gente não consegue conceber 19".


(Trad. : Fabio de Castro)


1 - Stephen Endicott, Edward Hagerman, “As armas biológicas da guerra da
Coréia”, Le Monde diplomatique, julho de 1999.
2 - Citado em Clay Blair, Forgotten War, p. 515.
3 - Arquivos nacionais norte-americanos, dossiê 995.000, caixa 6175,
despacho de George Barrett, 8 de fevereiro de 1951.
4 - Arquivos nacionais, RG338, dossiê KMAG, caixa 5418, diário KMAG,
entradas dos 6, 16, 20 e 26 de agosto de 1950.
5 - New York Times, 31 de julho, 2 de agosto e 1o de setembro de 1950.
6 - Ver “Air War in Korea”, em Air University Quarterly Review 4, n° 2,
outono de 1950, pp. 19-40 e “ Precision bombing ” in Air University