domingo, 8 de fevereiro de 2009

Vôlei: parece, mas não é


Faz muito tempo que peço pro Zé Ricardo esse texto sobre o Vôlei. Provocador nato, nesse texto faz uma pesquisa e um estudo sobre o Vôlei. Bastante curioso os argumentos e vale a pena ser lido.

A versão original foi publicado no blog do referido autor, que é: www.tutucomcouve.blogspot.com


Vôlei: parece, mas não é


Por José Ricardo Fonseca


Uma coisa me admira na natureza humana, a capacidade de tolerar mesmices. Dia desses conversava com amigos sobre esportes. Esse é o tipo de discussão interessante para se constatar o nível de ilusão das pessoas. Falo isso porque no meio da conversa surge alguém que menciona o vôlei. Não foi um breve comentário, mas uma declaração apaixonada sobre a adrenalina e empolgação que tem esse “esporte” – e o sujeito nunca jogou vôlei só torce e, ainda, pela televisão.

Sinceramente, eu admiro a mídia e a sua capacidade de fazerem as pessoas acreditarem em coisas idiotas. Nesse momento da discussão tive que intervir: “O vôlei não é um esporte é uma queimada melhorada!”. Isso mesmo, aquela brincadeira de jogar a bola no outro e não deixá-la cair no chão. Não sei como as pessoas não percebem isso – deve se a Matrix funcionando (por favor, preciso de mais pílulas vermelhas!!!). Se não fosse por essas convenções de especialistas que decretam por sua vontade acadêmica que algo é importante ou não, sem a menor observação da realidade, simplesmente por um ato de “foro íntimo” o vôlei não seria considerado um esporte.

É um incrível absurdo, mas as pessoas aceitam. Um jogo que tem apenas três movimentos: toque, manchete e cortada. Minto, são quatro, faltou citar o saque. Aliás, um movimento que não é tão sem graça quanto jogar pedras porque os brasileiros incrementaram com algumas firulas e batizaram com nomes cinematográficos (viagem ao fundo do mar e jornada nas estrelas). Ah! Tem o bloqueio também, como bem lembrou um participante da discussão. Mas, peraí! Bloqueio não dá para contar como movimento do jogo. O bloqueio é simplesmente pular na frente da bola com os braços estendidos. Isso não se aprende ou se desenvolve na prática desportiva, você faz naturalmente desde criança quando brinca com bola.

Mas tudo bem. Eu aceito que é injusto criticar o vôlei pelos seus movimentos. Principalmente, se compararmos com esportes mais complexos, com uma “pequena” maior variedade de movimentos, jogos de corpo e destreza como o futebol e o basquete, só pra citar esses dois. Realmente o vôlei é “empolgante” (uhooo!!!) com essa enorme variedade de jogadas que se repete em cada lado da quadra: saque de um lado e do outro manchete, toque (ou melhor levantada), corta e novamente manchete, levanta, corta, depois manchete, levanta, corta e depois manchete, levanta, corta... Ah! Esqueci que as vezes a bola cai no chão e tudo recomeça. A vibração é muito intensa. Não sei como os jogadores não ficam tontos de tanto repetir a mesma seqüência. Nossa, me lembrei dos treinos. Aí sim, é a demonstração de que os profissionais do vôlei são persistentes, porque na boa, agüentar essa repetição todos os dias por várias horas, só para treinar, sem valer nada, nem mesmo um pontozinho, é sem dúvida o cúmulo da paciência.

O engraçado na discussão é as pessoas ficarem bravas, simplesmente argumentando que a queimada melhorada tem campeonato e aparece nas olimpíadas. Agora desde quando campeonato de alguma coisa é motivo para uma brincadeira virar esporte. Hoje em dia, tem muita gente à toa
(principalmente, depois do longo período de recessão econômica e do processo de reestruturação produtiva que aumentou significativamente o contingente de pessoas a toa e sem dinheiro)
que não pensa duas vezes antes de inventar um campeonato.
E as olimpíadas? Essas já não são sérias há muito tempo, desde os jogos na Alemanha, quando Hitler mandou matar quem não deixasse os seus atletas ganharem. Recetemente se discutiu até a possibilidade de um sujeito com prótese de carbono nas pernas correr, disputando medalha, com os mortais de pele e osso, que tomam apenas uns anabolizantezinhos. Fala sério! Olimpíadas definitivamente não é parâmetro.

Mas essas pessoas, que ficam nervosas, com os questionamentos ao vôlei, defendem esse jogo patético sem ao menos saberem a sua origem e a sua historia. Não sabem que o vôlei foi inventado, nos EUA (1895), como uma atividade recreativa para velhinhos, que não conseguiam jogar o basquete (esporte popular na época), que “era muito enérgico e cansativo para homens de idade”.

Como muitos especialistas relatam “a intenção era criar um jogo recreativo e sem contato físico, para atrair o público mais velho”. Pôr sugestão do Pastor Lawrece Rinder, Morgan, Diretor de Educação Física da ACM (Associação Cristã de Moços - uma organização vibrante e questionadora dos padrões de convivência da época) idealizou um jogo menos fatigante para os associados “maduros” da ACM.

Ao mesmo tempo, era preciso criar algo mais morno, lento e calmo, que não agitasse muito o pessoal. Sabe como é, os jovens já tem muitos hormônios, precisamos apaziguá-los. A coragem dos moços cristãos foi inédita, pois sabendo que os esportes e suas competições tinham origem nas guerras e batalhas, eles ousaram com uma modalidade leve e tranqüila, ou seja, tão monótona que enfadava.

O detalhe sórdido da história do vôlei, essa ousada recreação protestante, está numa teoria da conspiração interessantíssima, que relaciona a difusão do “esporte” a interesses militares e imperialistas. “O primeiro país estrangeiro a conhecer o esporte foi o Canadá, em 1900, por meio da ACM”. Até aí normal, mas a coisa começa a ficar estranha com os seguintes fatos:

1. “O segundo país estrangeiro a conhecer o vôlei foi Cuba, em 1906, levado pelo oficial do Exército americano Augusto York, que participou da segunda intervenção militar dos Estados Unidos na ilha caribenha”.

2. Depois a queimada melhorada foi levada para “a Europa pelos soldados americanos a partir de 1915, na 1ª Guerra Mundial. Também em função da 1ª Guerra, o Egito foi o primeiro país africano a descobrir o vôlei”.

3. E, não para aí, na América do Sul, a queimada melhorada “chega no Peru, no ano de 1910, por intermédio de uma missão contratada pelo governo peruano, junto aos Estados Unidos, com a finalidade de organizar a instrução primária no país, que modificava os programas de educação física para crianças”.

4. A coisa fica mais evidente quando se observa que no auge da guerra fria, precisamente em 1962 o vôlei foi admitido como esporte Olímpico.

5. E, atenção para este fato: aqui do lado de baixo do Equador, a partir das ditaduras militares, a recreação protestante passa a ser prática nos quartéis, principalmente depois dos intercâmbios entre os exércitos latinos e o americano, e logo em seguida ganha incentivo e se “populariza” nas escolas.

Vejam como os fatos demonstram a síntese do partido republicano: protestantes ultra-conservadores mais a industria militar no Estado.

O curioso disso tudo é que o vôlei, estranhamente, “até os anos 30 foi praticado mais como uma forma de recreação e lazer, e houve raras atividades internacionais e competições”. Entretanto, de repente, ganha destaque como esporte e por incrível coincidência cresce junto com a política imperialista do país que o inventou.

Um indicador importante para demonstrar a validade de teorias conspiratórias é o cinema holywoodiano. Nesses filmes podemos perceber claramente a propaganda ideológica de valores e estilos de vida. Um exemplo escancarado da relação: queimada melhorada, militares e valores americanos está no filme “Top Gun – Ases indomáveis” (1986). A trilha sonora, o romantismo mela cueca e a disputa do bonzinho contra o mau foi o cenário ideal para vender um modelo de valores e de estética. Agora, adivinhem qual o “esporte” que está no pacote de valores vendido pelo filme? O vôlei e mais nenhum, o esporte dos milicos.

Tá certo que a queimada melhorada não foi a única baboseira que tivemos que engolir dos Estados Unidos. Teve o ioiô (um brinquedo que mais parece teste de psicotécnico), o personagem Mikey (um policialzinho que dedurava todo mundo), a festa de haloweem (que espalha pra todo lado aquela abóbora ridícula) e por aí vai... Mas, o vôlei além de patético e monótono foi fabricado pela elite conservadora e protestante dos Estados Unidos. Foi mais um dos instrumentos da colonização americana, praticada principalmente, na América Latina, via os militares e sua doutrina de segurança nacional.

Enfim, a capacidade de iludir está cada vez mais eficiente. Cada vez menos as pessoas questionam o porquê das coisas. O pior é que, hoje em dia, compram qualquer porcaria que lhes vendem, bastando ser colorido e com luzinhas que piscam. Se as pessoas idolatram a Xuxa, se a maioria não é obesa e nem diabética, mas, só consome o que é Diet e até hoje acham que chuva dá gripe, imagina acreditar que o vôlei é um esporte?

O mais interessante de tudo é observar o grau de fabricação da queimada melhorada. Pois, até a bola do jogo, que em outros esportes foi sendo melhorada no decorrer da história para o desempenho da modalidade, na recreação protestante o seu inventor, Morgan, “solicitou a firma A.G..Stalding &.Brothers a fabricação de uma bola para o referido esporte”. A firma, após várias experiências, acabou satisfazendo às exigências do cliente.
É, nesse jogo até a bola foi comprada.

Um comentário:

Raul disse...

eu tinha q comentar aqui.... eu sempre achei volei uma queimada melhorada!!
auhahuahuauhau

bom saber q ainda existem pessoas que sabem diferenciar esporte de hobby!