Reproduzo aqui um poema do poeta Pedro Tierra.
Há uma gaita que geme e desafia
Filho do barro
e da esperança: Adão.
Pai
da palavra, da trova, do canto,
apoiado na gaita e na invenção.
Regressas ao barro,
na estação das chuvas,
como quem fecunda...
Levas no corpo que baixa sobre o pampa
– e se enterra com a lágrima
de teus irmãos e amores e filhos e sonhos –
a surda condição da semente.
Em que madrugada
o corpo de Adão Pretto
se apartou do barro
e se fez vagido, grito, palavra, canto?
Em que marcha as foices
levantaram a vontade da manhã,
acenderam a luz azul dos seus olhos
e desataram o rio da palavra
que brotou de sua garganta?
Havia uma cruz e uma encruzilhada.
Havia frio. E medo.
E a morte dos anjos.
Havia panos brancos sobre os braços da cruz
como bandeiras de paz.
Para que não se extravie a memória dos anjos.
Havia medo.
E a palavra como centelha
acendendo no acampamento
uma canção de coragem.
Ouvidos que ouvem e olhos que brilham
contra a tarde de cinzas.
Há uma gaita que geme e desafia.
Sempre haverá
enquanto houver ouvidos
que acolham e desafiem a ordem,
o medo, a submissão.
Não houve tempo para colher a semeadura.
Mas houve tempo suficiente para erguer os olhos
e deixá-los contemplar a bandeira vermelha
– sinal de terra livre –
no portal dos assentamentos.
Há uma gaita que geme e desafia
a ordem, o medo, a submissão.
A gaita de Adão Pretto
desafia o silêncio.
Brasília, 05 de fevereiro de 2009.
Pedro Tierra
Defesa da Alegria
Há 5 anos
Nenhum comentário:
Postar um comentário