quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Sobre Carnaval!


Foto do Bloco Cordão do Bola Preta

Carnaval está chegando, falta menos de um mês. Por isso, decidi fazer um tópico sobre o carnaval. Em especial destacando o renascimento do carnaval do Rio de Janeiro. Fui somente em 2006, mas posso dizer que é o esquema que curto bastante hoje.

Há quem pense que o carnaval do Rio se resume ao sambódromo. Um grande engano! Nos últimos anos, com a queda de público nos clubes, ocorreu o ressurgimento do carnaval de rua com a volta dos blocos.

A marca dos blocos do Rio sempre foi a irreverência e as críticas sociais e políticas. como a "Banda de Ipanema" que surgiu em 1965 – um ano após a implantação da Ditadura Militar – com desfiles críticos ao governo.

Os primeiros clubes carnavalescos

Foi a partir de 1855 que apareceram os primeiros clubes carnavalescos, chamados de Grandes Sociedades. Desde então, outros clubes foram se formando, dando início ao carnaval carioca, no estilo europeu, com mascarados pelas ruas e blocos fantasiados.

O próprio desfile das escolas de samba teve origem nos cordões e blocos dos carnavais antigos. O primeiro desfile extra-oficial de escolas de samba ocorreu em 1932 e foi vencido pela Mangueira, com um enredo de Cartola e Carlos Cachaça. Nesse ano, também, já existia a Portela, que se chamava "Vai como pode". O primeiro desfile oficial foi vencido pela "Vai como pode", em 1935, na Praça Onze.

Foi na Praça Onze também que, durante muitos anos, ficavam concentrados os blocos de carnaval e os foliões que vinham de vários lugares do estado. Hoje, o local é ocupado pelo Terreirão do Samba, que recebe diversos artistas ligados ao mundo do samba, principalmente nos dias de carnaval para aquelas pessoas que não tem acesso à Passarela do Samba, que fica logo ao lado.

Em 1852, surgiu o "Zé Pereira" – um conjunto que saía pelas ruas tocando bumbos e tambores, tendo à frente o sapateiro José Nogueira de Azevedo Paredes. Surgiram em seguida os instrumentos do que mais tarde viriam a formar uma bateria de carnaval: as cuícas, os tamborins, os tambores e os pandeiros.

Depois os desfiles passaram para a Avenida Presidente Vargas e de lá para a Passarela Professor Darcy Ribeiro, criado em 1982 pelo, então governador do Rio, Leonel Brizola, onde durante o resto do ano funciona uma escola pública.

Pra falar um pouco mais sobre o momento que vive o carnaval do Rio deixou uma matéria bem interessante públicada na revista época no ano passado!


Só não vai quem já morreu

Por Rafael Pereira


Eram 9 horas da manhã do sábado do último Carnaval. Um grupo de centenas de animados e fantasiados foliões esperava pelo desfile do bloco Cordão do Boitatá, um dos mais tradicionais do Rio de Janeiro, programado para percorrer naquele dia as ruas do Centro da cidade. Depois de um atraso de duas horas, o povo percebeu que tinha levado "um bolo". Tudo levava a crer que aquela multidão teria de procurar outra coisa para fazer, ou voltar para casa. Até que... Um vendedor ambulante de cerveja tinha, por acaso, um tamborim e começou a batucar o instrumento. Dois ou três fregueses começaram a acompanhar o ritmo cantando músicas antigas de Carnaval. Logo, o ânimo tomou conta dos cabisbaixos órfãos do Boitatá. Alguns poucos tambores de última hora juntaram-se ao tamborim precursor e, animados pelo inusitado, saíram pelas ruas do Centro como um bloco recém-criado. Uma jovem fantasiada de vaca foi eleita a musa - ou "muuuuusa". O naipe de metais tinha apenas um trompetista. Algum folião catou um pedaço de papelão, prendeu em um tridente de plástico de algum diabinho e batizou o bloco com tinta de batom, criando um estandarte: Cordão do Boi-Tolo.

Neste ano, o Boi-Tolo sairá oficialmente no Carnaval do Rio. Está entre as dezenas de novos blocos que debutam neste ano nas ruas. Foram 137 blocos inscritos na prefeitura para desfilar com local e horário marcados, policiamento reforçado e banheiros químicos. Mas a própria prefeitura estima que o total de desfiles passará de 300, um número 20% maior do que no ano passado. "A maioria surge de grupos de amigos, quase sempre jovens, que criam blocos de acordo com os seus interesses", afirma Guilherme Studart, pesquisador de blocos de rua, economista durante o ano e folião profissional durante o Carnaval.

O Boi-Tolo é um exemplo clássico de como nasce um bloco hoje em dia, em tempos de internet. Poderia ter acabado no sábado de Carnaval do ano passado, tão rápido quanto nasceu. Mas no dia seguinte ao desfile improvisado, já havia quatro comunidades em sua homenagem no Orkut. "As discussões esfriaram um pouco durante o ano, mas em outubro já estava todo mundo decidindo o local de desfile, horário, onde seriam os ensaios e quem faria parte da bateria", diz Luis Otávio Almeida, um dos organizadores do bloco. Assim como o Boi-Tolo, estão saindo pela primeira vez o Estressa, Mas Não Surta, de Botafogo, A Praça É Nossa, de Santa Cruz, Um Dia Isso Enche o Saco, na Ilha do Governador... Isso sem contar os tradicionais, como Banda de Ipanema, Suvaco de Cristo, Monobloco e o próprio Cordão do Boitatá, cada vez mais lotados de foliões.

"Eu nunca pensei que estaria vivo para assistir ao renascimento do Carnaval de rua do Rio", diz Sérgio Cabral, jornalista e um dos maiores pesquisadores de samba do país. Cabral lançou no mês passado o espetáculo Sassaricando - E o Rio Inventou a Marchinha, escrito em parceria com a historiadora Rosa Maria Araújo. A peça, um dos maiores sucessos em cartaz na cidade, recupera as músicas de uma época em que o Carnaval era brincado nas ruas ou em bailes de salão.

Os blocos de rua são a origem do Carnaval brasileiro. O ato de "brincar Carnaval" chegou ao país no século 16, vindo de Portugal com o nome de Entrudo. Na prática, era um conjunto de brincadeiras consideradas violentas, levadas a cabo basicamente pela população pobre. No Brasil, a folia ganhou forma em ranchos, da classe alta, cordões, mais populares, e os blocos, uma espécie de meio-termo, mais democrático. Na história recente, já no século passado, os blocos de rua deram origem ao que hoje são as Escolas de Samba e foram ofuscados pela fama dos desfiles competitivos. O primeiro renascimento deu-se com a Banda de Ipanema, criada em 1965 por Albino Pinheiro para zombar da recém-instalada ditadura militar usando de humor fino. Nos anos 80, durante o período de abertura que marcou o fim do regime autoritário, outros blocos como o Simpatia É Quase Amor, Suvaco de Cristo e Barbas seguiram os passos da Banda de Ipanema e deram início ao que seria a primeira retomada do Carnaval de rua carioca.

Depois de passarem os anos 90 na sombra do sucesso dos carnavais de rua de Salvador e Olinda, os blocos cariocas entraram no século 21 com a maior popularidade da história. Encantado com o retorno do Carnaval brincado nas ruas, o jornalista Sérgio Cabral, apesar de responsável pelo resgate cultural das marchinhas, não vê o saudosismo com bons olhos. "No fim do século 19, Olavo Bilac tinha saudade do chamado 'Carnaval de antigamente'. O João do Rio, no começo do século passado, a mesma coisa. Na verdade, as pessoas não têm saudade de seus carnavais. Têm é saudade de seus 18 anos", afirma Cabral. Ele próprio criou o bloco Vaca-Totó, trocando e-mails com os amigos de um tradicional bar no Leblon, zona do sul do Rio.

A brincadeira ficou tão séria que os principais blocos da cidade fazem concursos de samba tão disputados quanto o das mais famosas escolas de samba da cidade. Os principais blocos da "retomada", dos anos 80, formam hoje o chamado "grand slam" - referência ao nome dado ao conjunto dos principais torneios de tênis do mundo. O Simpatia É Quase Amor, bloco de desfila em Ipanema desde 1985, tem uma das disputas mais acirradas. Na última, em uma quadra da Lapa, a batalha final ficou entre três sambas. Para se ter uma idéia do nível do concurso, um samba tinha sido feito pelos compositores do samba deste ano na Portela e outro, pelos vencedores da disputa na Mangueira. O terceiro concorrente foi o argentino Jorgito Sapia, um habitué dos carnavais cariocas e criador do bloco Meu Bem, Volto Já, que desfila no Leme.

O vencedor foi o samba de Diogo Nogueira, filho do grande sambista João Nogueira. Diogo, autor do enredo da Portela deste ano, participou pela primeira vez da disputa de sambas em um bloco e ficou impressionado com o profissionalismo. "O intuito é a diversão, mas a coisa foi séria. Eu gostei mais do que na escola, que tem uma sinopse definida. No Simpatia foi tema livre, e a recompensa é apenas a de ver o samba cantado pelo público", afirma Diogo, que recebe direitos autorais pelo samba da Portela e nenhum centavo pelo que ganhou o Simpatia.

Apesar da seriedade, a verdadeira marca do Carnaval de rua carioca é a irreverência. E tem para todos os gostos. Na Gávea, na zona sul do Rio, um grupo de atores, diretores e produtores de cinema criaram o bloco Me Beija, Que Sou Cineasta para os profissionais do meio. A atriz Guta Stresser, sucesso na telona com o filme A Grande Família, é uma das organizadoras e comanda a ala Dou pra Ser Atriz. "Foi tudo criado em uma mesa de bar no Baixo Gávea. No ano passado, organizei a ala com minhas colegas. Mas como eu realmente 'dou pra ser atriz', tive de sair correndo para uma gravação e deixei a Camila (Pitanga), a Dira (Paes) e a Mariana (Ximenez) lá sambando. Neste ano, espero ter tempo de brincar mais", diz Guta.

Blocos de colegas de trabalho são muito comuns, como o Só o Cume Interessa, dos alpinistas, Imprensa que Eu Gamo", dos jornalistas, e até o Regula Mas Libera, dos funcionários da agência reguladora de petróleo do governo, a ANP. Se a sua ocupação não é contemplada com um bloco, não tem problema. São tantos que, não importa a sua tribo, você encontra lugar para brincar. Para os gays, tem a Banda de Ipanema e os Amigos da Carmen, no Arpoador. As crianças podem brincar Carnaval no Bafo de Leite, da Urca, ou no Gigantes da Lira, em Laranjeiras. Já os idosos sambam no Bloco da Geriatria, de Campo Grande, ou no Unidos da Terceira Idade, do Centro. Até quem não gosta de samba tem vez. A Xaranga 3D, em Copacabana, mistura bateria e música eletrônica; o Bloco da Ansiedade diverte os foliões com o frevo de Pernambuco; os Filhos de Gandhi levam o afoxé baiano para a Gamboa. Só não tem desculpa para ficar em casa, vendo o desfile pela TV.

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