Campos de futebol
Andar pelo Brasil faz vc ter certeza que somos o país do futebol. Por toda parte do país vc encontra campos de futebol dos mais diversos tipos. Às vezes conseguir o espaço do campo é um desafio maior que jogar futebol. Impressionante como isso está enraizado na cultura popular de nosso país. Podemos dizer que em alguns lugares temos verdadeiras mobilizações para garantir a pelada. Isso pq a grande maioria desses campos são pra jogar de 16 a 22 pessoas, sem dúvida em alguns lugares é preciso deslocar por alguns quilômetros para garantir o quorum.
No final do ano passado e início desse pude andar por alguns estados que ainda não conhecia. Fui ao belo Ceará, local que vc custa acreditar que existe de verdade de tão bonito que é. Fui rapidamente ao Piauí e tive experiências com um Brasil inacreditável. Essas horas que passei no Piauí serão futuramente inspirações pra uma crônica. E estive no Maranhão, estado que tem inúmeras belezas e um povo extremamente cordial. Diz um deles que tive sorte, mas foram tantos encontros com pessoas legais que custo acreditar que tive tanta sorte assim. Passei 12 dias no Maranhão, muitas coisas me impressionaram, mas nenhuma delas me impressionou tanto quanto a quantidade de campos de futebol. Dos mais variados e diferentes tipos.
Minha chegada ao Maranhão deu-se de barco. Uma travessia de 8 horas num Tó-tó-tó pelo Delta do Parnaíba. O que poucos sabem é que 70% do delta é Maranhão e não Piauí. Foi nesse caminho que comecei a ter contato e perceber a quantidade de campos de futebol. A foto no início da postagem é justamente o primeiro deles, um campo na Ilha do Meio (local em que almoçamos) e que tinham no máximo 3 casas a vista. Contudo, o campo era enorme e perguntei como eles conseguiam juntar tanta gente pra jogar ali. O proprietário do restaurante disse que aos finais de semana vêm homens de vários vilarejos próximos e jogam. Organizam até campeonatos... Impressionante! E nem sempre as condições do campo são as melhores, como o momento registrado na foto pela fotografa Lívia, uma das pessoas que conheci no meio do caminho da minha viagem supostamente solitária.
A partir desse momento não parei de perceber o número de campos de futebol. Cheguei a começar a contar, mas logo perdi a conta. A primeira cidade do Maranhão que fomos foi Tutóia. Rápida passagem! Chegamos de noite e saímos pela manhã. Fomos para Paulinho Neves, onde conheceríamos os Pequenos Lençóis. Um caminho árduo, de uma estrada de areia infinita. No meio do caminho comecei a perceber de fato como os campos de futebol se proliferavam pelos povoados que passávamos. Tentei criar alguma explicação para aquela surpresa e a única que tive foi que a cada três casinhas juntas, tem um campos de futebol no Maranhão. Essa explicação criada nesse caminho foi brilhante, pois ela seguiu por toda viagem.
De Paulinho Neves chegamos em Caburé. De lá fomos visitar Mandacaru e Atins, dois povoados próximos dos Lençóis Maranhenses. Arrisco dizer que em Atins, na beira das dunas, deva ter no mínimo 5 campos de futebol. É importante definir que quero dizer com campo de futebol. É uma área grande, onde jogam 16 a 22 pessoas, com balizas construídas perfeitamente com traves e travessão de madeira.
Passada essa região fui pra Barreirinhas e Santo Amaro. Nessas cidades fiz diversos passeios, num deles demorei duas horas pra percorrer 36 km, só areia! Isso foi do Sangue pra Santo Amaro e a volta tb! Nesse caminho fui surpreendido por 6 campos de futebol dessas dimensões!!! Estamos falando que 96 pessoas se reúnem, provavelmente toda semana, pra jogar futebol nesses campos invejáveis. No Sangue peguei uma pelada de final de dia. Começava a chegar gente por todos os lados, sendo que a grande maioria vinha de bicicleta. Tinha um time completo de próxima e mais algumas pessoas. Eram, cerca de 25 homens reunidos.
O que mais impressionou foi o campo de futebol perfeitamente montado na Queimada dos Britos. Pra vcs terem uma idéia a Queimada dos Britos é um povoado no meio dos Lençóis Maranhenses, praticamente um oásis no meio de tanta areia. É lá tinha um campo. Quando comentei com meu guia Nilson sobre os campos ele relatou uma interessante história. Aquele pequeno povoado tinha uma grande disputa entre times de futebol. Num jogo acirrado e de grande rivalidade um dos jogadores deu uma entrada duríssima em outro, que teve alguma lesão interna e acabou falecendo. Distante 9 horas de “pés” de Santo Amaro, sem carro e sem qualquer alternativa de atendimento de saúde uma pequena pelada pode levar a morte!!! Dizem que lá eles levam os doentes em rede, montada entre dois jegues pra caminhar até Santo Amaro, que não é uma grande cidade!
Os campos continuaram aparecendo a cada 3 casas juntas pelas estradas que percorri no Maranhão. Se eu fosse empresário do ramo de futebol certamente teria alguns olheiros pelo Maranhão, pois com essa quantidade de campos certamente deve ter uma grande quantidade de talentos não aproveitados. Minha breve passagem por esse estado tão sofrido deixou essa marca, na qual pro resto de minha vida sempre que ver um campo de futebol em um vilarejo lembrarei que no estado do Maranhão basta 3 famílias pra construção de um! E assim esse estado foi batizado por mim como o estado dos Campos de Futebol!
Termino dizendo que intenção de relatar minha viagem será assim. Será por passagens que me marcaram e não por uma ordem cronológica. Faço isso pq assim tento passar não os acontecimentos que vivi, mas o meu olhar por onde passei. Acho isso infinitamente mais interessante do que simplesmente relatar acontecimentos. A história de hoje foi sobre meus 12 dias no Maranhão, se fosse relatar todos os 12 dias assim certamente não teria espaço pra contar de cada campo de futebol. Às vezes o relato será somente de algumas horas. E nem sempre será um texto claro, algumas serão crônicas e narrativas do momento vivido. Espero que assim vcs possam desfrutar um pouco de minha viagem tb! Afinal, o que estou fazendo tb é uma viagem!
Hasta la vista!
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